12.6.24

Diário de Bordos - Aeroporto de Lisboa, 12-06-2024

Ler livros à noite e no Inverno viajar para sul, sugeria Eliot. Segui esse conselho com uma certa frequência. Passei alguns anos sem invernos, a tal ponto que uma vez em Abril fui à Suíça e pedi à S. que me levasse a um sitio com neve. Estava com saudades do frio. Lembro-me dos meses que passei em Nakhodka (temperaturas entre menos vinte e cinco e mais doze) e penso que tal como não seria capaz de viver em altas latitudes não poderia voltar a viver sem invernos. A conta que Deus fez não foram três. Foram quatro: Verão, Outono, Inverno e Primavera. Por muito bom que pareça, não se pode passar o ano de calções azuis e pólo branco. Calças e camisa de mangas compridas, casaco ou camisola fazem falta. 

Como a solidão e a companhia: nem sempre uma nem sempre a outra.

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O avião atrasou mais de uma hora. Acontece muitas vezes, neste voo. Os atrasos do dia vão-se adicionando. É possível que desta vez fique por aqui. Às vezes é mais. Refugio-me num café (Grandcafé, se por acaso) e bebo vinho a um preço revoltante.

Há alguma coisa que não seja revoltante, num aeroporto?

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Conheci recentemente a G. I. e leio-lhe os livros, duas breves recolhas de poesia. A primeira é um tratado sobre as relações do corpo com a pele e o tempo. Fossilizadas, a acreditar no título, que o conteúdo desmente. Leio em ziguezague, de trás para a frente, da frente para o lado, do lado ora para trás ora para a frente. O livro tem uma lógica, uma progressão quase circular. Começa e acaba com "ontem". Lê-lo aleatoriamente faz ressaltar esse percurso. "Lembro o futuro no caminho de ontem / (...)" "Na pele, um anel de pedras pretas / o caminho de ontem."

Respectivamente do último e do primeiro poemas. Como se a pele e o corpo fossem um círculo cujo centro é o tempo.

Como se?

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