Descontrolado, o tempo volteja(*) em torno do corpo. Perdeu ou o norte e está desnorteado ou o oriente e está desorientado. Talvez devesse estar desolado, também, por não encontrar o Sul.
O Sul é o mais desejado dos pontos cardeais.
- Vou para o sul - dizes-me. E eu respondo:
- Para o sul de quê?
- Não sei. É como se vivesse no pólo norte e todas as direcções fossem o Sul.
- Todas são, quando se vive no pólo norte. Mas tu não vives. Estás a sul de umas terras e a norte de outras.
- Vou para o Sul de mim.
Longo silêncio.
- No sul... - Pausa. - Suspiro. - Pausa - Deitar-me-ei durante uma tempestade de areia...
- Isso é o contrário do que se deve fazer.
- ... E ficarei soterrada - prossegues como se não me tivesses ouvido. - Quando a tempestade acabar desenterrar-me-ei...
- Desarear-te-ás...
- ... E tudo estará coberto de areia. Tudo será igual e tudo será diferente. O sul de mim é assim. Tudo igual e tudo diferente.
- Aonde ficarei eu, nesse teu sul de ti?
- Aonde sempre estiveste. És o meu Norte de mim.
(*) - Inspirada de um verso de Yeats.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.