13.6.24

O Sul de ti

Descontrolado, o tempo volteja(*) em torno do corpo. Perdeu ou o norte e está desnorteado ou o oriente e está desorientado. Talvez devesse estar desolado, também, por não encontrar o Sul. O Sul é o mais desejado dos pontos cardeais. 
- Vou para o sul - dizes-me. E eu respondo: 
- Para o sul de quê?
- Não sei. É como se vivesse no pólo norte e todas as direcções fossem o Sul. 
- Todas são, quando se vive no pólo norte. Mas tu não vives. Estás a sul de umas terras e a norte de outras. 
- Vou para o Sul de mim. 

Longo silêncio. 

- No sul... - Pausa.  - Suspiro. - Pausa - Deitar-me-ei durante uma tempestade de areia... 
- Isso é o contrário do que se deve fazer. 
- ... E ficarei soterrada - prossegues como se não me tivesses ouvido. - Quando a tempestade acabar desenterrar-me-ei... 
- Desarear-te-ás... 
- ... E tudo estará coberto de areia. Tudo será igual e tudo será diferente. O sul de mim é assim. Tudo igual e tudo diferente. 
- Aonde ficarei eu, nesse teu sul de ti? 
- Aonde sempre estiveste. És o meu Norte de mim.

(*) - Inspirada de um verso de Yeats.

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