20.6.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 20-06-2024

A clientela de um bar como o 7 Machos divide-se em Fauna e Flora. (Admitidamente, não é só a do 7 Machos, mas como é aqui que estou a escrever fica assim.)

Por razões que têm a ver com a biologia, entre outras, sou mais sensível à flora. E assim nasce a única, sublinho única crítica negativa ao novo local desta mágica instituição. Na rua de San Magi eu tinha o meu canto ao balcão e dali podia ir avaliando, discretamente (claro) as flores, plantas, árvores e outras rosas que iam entrando. Aqui não há essa possibilidade. Estou ao balcão mas virado para dentro, para as garrafas. Acho que vou ter de explorar melhor o espaço e ver se compenso ou contorno esta deficiência. 

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O dia foi rico em emoções. A menor delas não foi, de certeza, ter o bote limpinho da silva por fora e arrumado por dentro. Está quase habitável. Quase, essa maldita palavra.

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Hoje veio um segurança avisar-me de que a partir de agora tenho de deixar a burra no respectivo parque. Não as querem mais (havia outras) no pontão. 

[A rapariga que acaba de entrar é de certeza absoluta irmã mais nova da Mariel Hemingway. Quando penso que nos meus tempos de escola secundária detestava botânica. Vá lá que ainda tenho alguns anos para equilibrar a balança.]

Era bom de mais, claro, a burra à porta sem cadeado nem outra segurança que não a confiança nos vizinhos.

É verdade que já a deixei bastas vezes no parque sem o cadeado, mas não é a mesma coisa e agora vai levá-lo, coitada.

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O Naoel fez-me a margarita com um mezcal diferente, melhor e fumado. Ninguém imagina o efeito positivo de uma margarita bem feita nas perspectivas de futuro de um pobre e solitário skipper longe de casa. Sendo que este futuro não se limita ao longínquo. Engloba também a noite que aí vem e promete ser magnífica, de sono ininterrupto até ser hora de ir pôr a merda do aspirador a reparar. 

[A Marielita chama-se Alexandra,  se por acaso.]

(Se alguém me dissesse que um dia uma noite magnífica para mim seria uma noite de sono ininterrupto eu tê-lo-ia mandado imediatamente para um concurso de stand up comedy.  Ganharia o primeiro prémio, illico presto.)

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Outra desvantagem deste sítio: por muito que se goste de ver gente a trabalhar bem e depressa, olhar para estes gajos atrás do balcão provoca vertigens. É que não param um mili-segundo. E ainda hoje é quinta-feira. 

(Amanhã estarei num charter. Não haverá botânica nem vertigens nem margaritas nem mezcal. Em contrapartida haverá uma coisa que os substitui com algumas vantagens. Por que raio de carga de água não consigo conciliar tudo, numa maravilhosa esfera como as das discotecas? Porque não consigo ser pago para beber copos e estudar plantas no 7 Machos? Quem é que fez este mundo? Ainda há quem acredite em Deus?)

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Uma das piores bebedeiras (ou melhores, depende do ponto de vista) que apanhei na vida foi com mezcal, em Melville, Johannesburg, África do Sul. Foi das poucas das quais me envergonho, arrependo e admiro. Hoje bebo essa traiçoeira bebida e penso quão fácil é deixarmo-mos enredar nas suas teias. Felizmente estou prevenido.

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O Naoel não só me faz um preço inacreditável como ainda me propõe mais um mezcal para el camino. E ainda há quem pense que eu sou gastador.

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A BH enganou-se e em vez de me levar para bordo trouxe-me para o Antiquari. O erro não foi meu, insisto. Foi da burra. O Jaume estava fechado, o Gibson cheio - além de que não têm sobremesas - o Fidel estava fechado, passo pormenores e acabo aqui, palco de um celebre diálogo:

- Esta é a minha segunda casa.

- Ah sim? Qual é a primeira?

O Antiquari está aberto, tem uma sobremesa e rum Flor de Caña, música excelente e a beleza de sempre.

Que a bicicleta se engane no caminho muitas vezes, é tudo o que espero e desejo.

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