Os clientes queriam jantar em terra porque é o último dia do grupo: amanhã uma das famílias vai-se embora, um dia antes do fim do charter, que é sábado. Raio que os parta. O único sítio possível é Magaluf. Exacta e diametralmente o oposto do que gostam. Que se lixem. Pelo menos assim têm uma visão circular de Mallorca. Acordar em Sas Hortigas e adormecer em Magaluf é como começar uma viagem num carro de luxo e acabá-la num tuktuk a pedais.
Nunca conseguirei perceber as pessoas que vêm passar férias a sítios como este. Ao meu lado está uma família portuguesa: pai, mãe e dois putos pré-adolescentes. Que raio de carga de água vão eles levar deste jantar? O restaurante chama-se Ibizza, comi um arroz negro que estava simultaneamente negro e uma merda, vou pagar um balúrdio, a música (que não é tão má quanto seria de temer) está alta de mais. Talvez levem boas recordações: são frugais e usam três telefones entre os quatro - a mãe e o mais novo partilham um. A mulher é bonita e parece-me bem vestida. Isto é: não tem um decote espampanante, o vestido é comprido e não muito feio (pelo menos a parte que vejo), os cabelos são pretos ou castanho escuro e não tem adereços em demasia.
Só venho a Magaluf se for pago para isso. Pagar para vir aqui parece-me o epítoma da bimbolice. Mas isto sou eu, pedante e solitário, marinheiro e desencantado.
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Pedi um gelado. Só têm baunilha. Paciência. Depois bebo um rum noutro lugar qualquer, aonde a música será de certeza pior mas pelo menos terei a impressão de não gastar tanto. Parcelar, meu caro, é a melhor maneira de passear o enfado.
[Acabei por beber o rum ali e o jantar afinal não foi tão caro quanto temia.]
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Eles foram jantar ao Pargos e dizem que gostaram. A ver se dá próxima vez me lembro.
(Espero que não seja tão cedo.)
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Cruzei outros dois grupos de portugueses, mais condizentes com o local.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.