11.7.24

Carta aberta a uma mulher casada (e fechada)

Que raio de bicho te mordeu, mulher, para te casares sem ser comigo? Não percebes tu que enganar desta maneira os desígnios divinos tem consequências graves?

Pelo menos para mim, claro. Sei lá se para ti é a mesma coisa...

É que, repara, não é só uma questão de cabelos, mamas ou olhos (eu sei, mas isto não é uma lição de anatomia), ventre, coxas e o que lhes fica por baixo ou entre, depende do referencial que escolheres. Eu já escolhi: o meu referencial és toda tu. Isto é: toda inclui essas coisas que já mencionei e mais, outras que não se vêem sempre. Só se manifestam às vezes.

Fazer amor com uma mulher que sabe escrever não é fundamentalmente diferente de o fazer com uma analfabeta. Na aparência. Na verdade é completamente diferente. Acariciar uma mama, beijar uns lábios, olhar para uns olhos que sabem ler, ser acariciado por uma mão que sabe escrever, calar o grito «amo-te» mesmo que ela nos queime a língua e apagar esse incêndio entre as coxas de quem sabe manejar palavras é foder a vida, a história, a humanidade. É como ler um livro cujas páginas são feitas de pele; e os cotovelos servem para não me esmagares enquanto os bicos das mamas desenham letras no meu peito.

Isto é: saber escrever e ler não é tudo. É também preciso ter humor, saber rir e encantar com esse saber. Os chineses bem dizem que quando se olha para alguém só se vê metade dessa pessoa. Bem podiam dizer que ou se fode a mulher toda ou mais vale limpar as mãos à parede.

«Toda». É isso que acabei de dizer. Não é por acaso que toda e foda são tão parecidas. São siameses, mulher, é o que te digo: siameses.

Por isso acho deplorável a ideia de te casares sem ser comigo: o meu «toda» fica amputado e as minhas fodas sabem a nada. Todas.

Sa Calobra, 09-07-2024

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.