A descida da costa portuguesa nestas condições é uma seca. Não há vento, por causa das orcas temos de vir a rasar a costa - o que aumenta bastante as distância - e paramos todas as noites. Dizer que estou farto é dizer pouco. Valeu o jantar na Póvoa com o D. e agora esta escala em Cascais, para a qual olho com olhos «de passagem», que me fazem ver a beleza que antes não via porque a vivia e como qualquer pesoa sabe, quem vive na - ou com - a beleza deixa de a ver. Aquela frase lapidar de Anaïs Nin «Não vemos as coisas como elas são, vemo-las como nós somos» não se aplica a nada com tanta força como quando visitamos um sítio aonde vivemos. Aonde fomos (verbo ser, não ir). Não se vê o que é, vê-se o que se é, reescreveria eu - acrescentando «o que se foi», com um delicioso duplo sentido.
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Em Cascais venho à Bijou, que é sempre (ou ainda?) uma meia-decepção. Pelo menos tem um bom café e o serviço é simpático e eficaz. Espero vivamente que o dono acerte com o café - não ter café de saco é imperdoável, num estabelecimento que se lançou no café a sério - e ponha wifi no interior para que um pobre marinheiro de passagem possa escrever as suas memórias enquanto bebe um bom café.
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Daqui a pouco largamos para Sines e depois Portimão. Segunda-feira de manhã desembarco, se tudo correr bem. Este pára-arranca é mais cansativo do que passar dias seguidos no mar, mistério que ando a tentar elucidar há algum tempo. Já tenho algumas pistas mas não passam disso.
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CLARO QUE CONTINUA. Isto das viagens sem fim é assim.
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Cheguei ao pontão do combustível e voltei para trás. Só fiz uma asneira: foi ter saído do lugar aonde estava. Era mais do que evidente que só um idiota iria para o mar nestas condições.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.