Pergunta-se o diarista:
- Que fazer dos dias maus?
- O mesmo que fazes dos outros. Escreve-os, digere-os, põe-nos a render, espreme-os. Podes até mentir e torná-los piores. Ou menos maus. Ou - arte suprema do diário - mentir e contá-los como foram. Tudo menos a pieguice e render-te a eles. Podes mentir-lhes, dar-lhes a ilusão de que ganharam, te ganharam; mas que isso não passe de ilusão, de recuar para melhor saltar. Tece, ilustra, tergiversa, sorri para melhor esconderes as lágrimas, promete-lhes vingança.
Numa palavra: manda-os à merda.
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É exactamente o que vou fazer contigo, vinte e dois de Outubro de dois mil e vinte e quatro. Vai à merda.
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O dia vai para aonde eu lhe digo, mas quem a limpa, varre o chão e põe nos baldes para mais tarde a despejar sou eu, claro. Ele esvai-se tranquilamente numas voltas em torno do eixo, pisca-me o olho no copo de vinho tinto, agita-me os resultados das análises à frente dos olhos, palhaçada para me fazer sorrir, foram bons, eu sei, a carcaça lá se vai aguentando e a verdade é que a carcaça está para nós como a construção civil para a economia: quando um vai bem, o outro vai bem também.
Apetece-me arrancar este dia de todos os calendários e dele deixar só algumas sombras, como estas favas. E o A1c, claro. E o pudim flan.
E mai'nada!
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.