Modo largada. Estou e não estou. Quando estávamos juntos a minha mulher reconhecia estes dias (eram mais porque as viagens eram mais longas). Tudo se torna relativo e ambíguo: é, não é, importa muito, pouco ou nada? O barco está pronto? O que precisas de fazer antes de largar? Tens comida, água, combustível? Tens vento? De onde, que força? O que está em terra passa a segundo plano mas ainda tens as amarras no pontão. Os sentidos aguçam-se, prestas mais atenção ao bote do que às pessoas que te rodeiam, do que a ti. O mar é um grande absorvedor. Um grande mata-borrão. Mas ainda estás em terra. Estás e não estás. As largadas têm dois tempos: quando largas no teu espírito e quando largas as amarras. Entre os dois podem decorrer dias, horas, semanas. Amanhã estarás de novo sozinho - como agora, mas de uma maneira diferente: o barco não se mexe, quase; e tu tão pouco. Já não estás, apesar de parecer que estás. És e não és. Só amanhã, quando largares, serás uno. Isto é, serás tudo e o seu contrário, como todos os marinheiros são. Hoje estás e não estás. Amanhã serás. Tudo e o seu contrário.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.