Alguns leitores recordar-se-ão: fui à Típika vender caixas de postais De Passagem, a senhora - Petra, para futuras referências - ficou com duas e deu-me cinquenta euros. Isto seguiu-se a uma breve conversa sobre o preço, cujos pormenores passo por agora.
Fiquei contente, claro e fui-me embora. Mais tarde, já a bordo, penso - ela pagou-me uma ou duas caixas? O início da conversa tinha exactamente incidido no preço. Eu dissera-lhe que queria vendê-las (a caixa inteira) por cinquenta e lhe dava vinte, ela contra argumentou com metade metade, acedi e enquanto a conversa se desenrolava ela ia vendo as fotografias. ¡Qué rico!¡Qué bello! e por aí fora. "Ainda vou mas é ficar eu com uma." (A tradução é minha.) A Petra explica-me que é melhor vender as fotografias separadamente, o que só muito medianamente me aborrece. Passo alguns pormenores. Ela pega nos cinquenta paus, dá-mos e eu saio dali com as pernas cheias de emoção.
Contudo, a bordo lembrei-me de me perguntar: ela pagou-me uma caixa ou as duas? É que isoladamente ela vai vender cada postal a três ou quatro euros e as caixas têm quarenta e oito.
Hoje voltei lá. A loja estava cheia - é francamente boa - mas mal me viu tira cinquenta paus da caixa, vem ter comigo com um sorrisão e diz-me "Desculpa, ontem esqueci-me de te pagar a segunda caixa." Não quero saber a quanto é que ela vai vender aquilo. Quero apenas que ela me dê um valor que me parece justo. Não me importo que as fotografias sejam vendidas separadamente. O conceito que lhes está subjacente - De Passagem - está bem expresso em cada uma delas. São postais. Só quero é vender mais.
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Sou contra a pena de morte excepto em casos mais do que justificados. Sou igualmente contra a pena de morte a pessoas que roubam mochilas na via pública, sobretudo se essas mochilas contêm um computador, uma máquina fotográfica, um telefone portátil, um passaporte e são da marca Lockdo. A este último caso, a pena de morte deve obrigatoriamente ser precedida de tortura. Por exemplo: pôr o indivíduo num tanque até à cintura, com piranhas. Só depois de estes amáveis peixes se terem alimentado deveria o ladrão ser levado à guilhotina.
Hoje de manhã passou uma frente violentíssima em Palma. Agora voltou o sol e esta luz pós-frontal, clara e densa, capaz de dar volume a uma folha de papel branco em cima de uma mesa de fórmica branca impele-me a fotografar a cada segundo.
Maldito sejas, filho de um comboio de putas sifilíticas.
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Cheguei cedo ao museu aonde será a conferência de Nazareth Castellanos e vi uma exposição cujo título me seduziu imediatamente: Todas as utopias passam pela barriga. Comprei o bilhete e lembrei-me de que tinha de ir ao Olivar. Perguntei à rapariga se podia voltar mais tarde. "Que sim, claro." Volto e a dita exposição estava fechada, por causa do temporal da manhã. Face à minha desilusão, pergunta-me se quero que me reembolse o bilhete. "Que sim, claro" e venho para a vermuteria San Jaime beber vermute Carvajales, um maiorquino que descobri recentemente, por coincidência aqui mesmo.
A nebulosidade voltou, a luz mágica foi-se, o Sol é substituído por vermute e deixo de sonhar com piranhas. Daqui a pouco vou ouvir a mais bela neurologista do universo e arredores, pergunto-me se é neurologista ou neuróloga e na dúvida peço um rum, porque é preciso cortar o doce.
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