26.10.24

Diário de Bordos - Palma, etc. - parte 2

Então foi assim: a conferência foi suspensa. José Luis estava no pátio para acolher e informar as pessoas. Explica-me que a senhora está doente, blablabla e termina dizendo-me para desfrutar a cidade. É o que faço: vou à Zara Home comprar um moinho para a pimenta fumada que tenho a bordo e não quero que se estrague. Não têm (ou seja: é demasiado caro). Compro um frasco para servir o piripiri à mesa e vou à Culinarium. Têm o moinho. Daí a necessidade que desde o almoço tenho de um Fernet-Branca manifesta-se mais intensa. Pedalo pela cidade. No Kamaleonico sobrava um fundo de garrafa. Pedalo pela cidade amada. No Weyler têm Fernet. Os dois barmen são eficazes, profissionais. Um bar é a casa de um homem que não tem casa. Foi a primeira vez que entrei no Kamaleonico. Ao Weyler venho raramente, sobretudo à tarde, para escrever. Qualquer dos dois ganhou um cliente. Na bicicleta trago a roupa da lavandaria, as compras do Mercadona, as compras da Zara e da Culinarium. Fica tudo à vista enquanto bebo. Ninguém rouba nada, aqui. Excepto bicicletas. Um gajo não as fecha e num milésimo de segundo desaparecem. Até fechadas, em alguns sítios. Mas a sacos ninguém liga nenhuma. A reacção da Petra deu-me coragem para ir ao Joan confirmar a proposta de exposição. Disse-me "Quando quiseres, Luís", mas estava emocionado e não gosto de me aproveitar desses momentos. E já foi há muito tempo, meia dúzia de meses. A verdade é que custa-me expor no bar Rita sem o aval do Jaume Salvadego. Parvoíce, claro. E tão pouco tenho dinheiro para ampliar as fotografias. Nem para as emoldurar. O Weyler é mais barato do que o Kamaleonico. Palma é uma cidade-bruxa. Enfeitiça. Em cada esquina uma casa. Consegui finalmente digerir o almoço. Foram precisos três Fernet. Tenho de agradecer à A. Foi graças a ela que fui à Típika. Não sei vender-me. Se soubesse e soubesse poupar o dinheiro da venda seria um homem como os outros. A música do Weyler é enjoativa, lounge jazz mas vai bem com o meu estado de espírito. Este tem um nome. Chama-se O princípio de um amor. Ou: A mistura de amor, distância e tem juízo, Luís. A música é assim. Parece que estou num elevador. Piano e sax. Mais meloso é difícil. Sentei-me no bar do Weyler e vejo o barman trabalhar. É um trabalho nobre. Não sei para onde ir agora. Deixo a decisão à BH Glasgow Vintage. Essa nunca se perde. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.