13.11.24

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 13-11-2024

Na Holanda vejo três coisas: as bicicletas, os barcos e a água. Passa toda a gente a pedalar, uns depressa outros não; velhos, jovens, meia-idade, quadros, estudantes, operários, velhinhas que um gajo se pergunta se conseguirão andar a pé quando desmontarem, bicicletas de carga com crianças, cães, hoje vi uma com outra burra no porta-bagagens. Uma meta-burra, por assim dizer. Fico com vontade de alugar uma e fundir-me naquela massa fluida, regular, ordenada pela mão invisível do bom-senso e da experiência. E os barcos. Amarrações a cada esquina, barcos de todo o tamanho e feitio, como as bicicletas, só que em vez de estarem nas ruas estão entre elas. E a água. Água em todo o lado.

É uma mistura que acompanha perfeitamente uma genebra, mesmo jonge. Velha não bebi nem uma.

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Genebra (a cidade, não a bebida):

Chego a casa e não faço nada do que devia fazer. Amanhã também é dia. Roma e Pavia, etc. Além de que a noite cheio de frio me espetou uma constipação de caixão à cova. A S. acendeu a lareira e venho para a sala enquanto elas conversam - a B. veio cá jantar, não sei se vem todas as quartas se uma por mês. É a melhor amiga da S., uma logopedista simpática. Trouxe "pimentos de Padrón" (eram de França), uma garrafa de espumante e salsichas com bacon. E kale, uma verdura igual às outras em pior. Ela e a S. conhecem-se e são amigas desde a universidade. Fazem regularmente férias juntas. O espumante vem da semana que acabam de passar em Tours. Eu fritei os pimentos, as salsichas e ajudei a acabar um vintage que a S. trouxe de uma dessas semanas no Douro, este Verão. Depois retirei-me, em busca de outros calores. Gosto desta liberdade. Elas não só não se importam mas ainda me agradecem e eu tenho os odores da lareira e dos amores nascentes, dois aquecimentos que vão bem um com o outro.

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Amanhã é dia de fondue de queijo, especialidade minha que se apoia em dois simples pilares: o queijo de chez Oberson e a ausência de maizena (ou fécula de batata, o ingrediente tradicional). Vem a G., que jura a pés juntos que esta é a melhor fondue do mundo. Tendo a concordar com ela, atropelando um pouco a minha inabalável e inquestionável humildade.

Verdade seja dita, o mérito é escasso.  Mas isso fica para depois. Deixemos a humildade atropelada na rua, coitada.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.