12.11.24

Diário de Bordos - Amsterdão, Holanda, 12-11-2024

Exceptuando a espera no aeroporto de Genebra e o sobressalto à chegada a Amsterdão a viagem foi fluida, sem interrupções nem surpresas. Cinco minutos a pé - autocarro -  avião - comboio - metro - dez minutos a pé e estou no hotel, que é porreiro. Isto de deixar os proprietários fazer as reservas é sempre agradável. Pelo menos quando não são chungas, claro.

Aterrei aterrado: mal tive rede chega um e-mail da companhia de seguros: precisam de mais papéis, "clarificações" e do raio que os parta. A raiva só se me acalmou no hotel. "Tu já sabias que ia ser assim, Luisinho, não sabias?"

Sabia, claro. As companhias de seguros não servem para nos pagar aquilo que nós pensamos que nos devem pagar em troca do dinheiro que lhes damos mensalmente. Acreditar nisso é ingenuidade ou estupidez. Servem para tentar não nos pagar a ponta de um chavelho. Fazê-las falhar nesse intento é obrigação nossa, não delas.

De maneira lá passei o jantar a trocar mensagens com o banco.

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Jantar esse que não foi mau. Escolhi o restaurante porque é na Herengracht, o nome do hotel aonde fiquei a primeira vez que fui a Cape Town depois da viagem no Príncipe Perfeito (ou seja: a primeira vez que lá fui com olhos de ver), hotel esse palco da minha primeira bebedeira com Alexanders, de que ainda hoje guardo gratas recordações. Além disso, o restaurante é também um local de provas ou parte de uma fábrica de genebra ou qualquer coisa no género e na minha cabeça os neurónios genebra e Pai estão ligados e é impossível separá-los. Ou seja: triângulo isósceles Pai - Genebra - Cidade do Cabo. Impossível evitá-lo.

O restaurante chama-se A. v. Wees. É metade um buraco para turistas e metade um lugar porreiro, tem uma extensa e excelente colecção de genebras e fica muito perto do Café Zwaart, aonde bebi a bica e a genebra finais, acompanhadas por uma terrível sensação de déjà vu.

Que não é totalmente falsa: já por cá andei várias vezes. Mas é aborrecida. A última vez que aqui estive fiquei de tal forma desiludido que nem um sítio bonito e tradicional me entusiasma?

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O centro de Amsterdão já tem a iluminação de natal. O calvinismo só se dá mal com o prazer. Com os negócios sempre se deu bem. (Em Amsterdão habituou-se ao hedonismo: é pragmático.)

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Sensação esquisita no metro: pela primeira vez ofereceram-me o lugar. Comecei por recusar mas depois lembrei-me do furioso que fico quando uma senhora a quem ofereço um lugar sentado recusa e aceitei. Era uma jovem, provavelmente magrebina, bonita e o gesto tornou-a ainda mais bonita a meus olhos. Ia com o namorado e levantaram-se os dois. Vinte anos, talvez. 

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O barco que vou ver amanhã é um Sharky. Nunca fui grande fã dos Amel, mas com a idade comecei a reconhecer-lhes qualidades. Há coisas que só a vida ensina a apreciar. A Suíça também é assim.

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Há pouco lembrei-me de uma conversa em St. Martin com o amigo do J. Disse ao cliente deste trabalho que ia apanhar o metro e ele respondeu-me:
- Vai de táxi, não percas tempo em metros (a inspecção é amanhã. Hoje não tenho nada que fazer. Vim de metro). 
O amigo do J.:
- Fartei-me de trabalhar para proprietários tesos, daqueles que discutem duas cervejas. Agora só trabalho para malta com dinheiro. 

Outra coisa que vem com a idade: a sageza. Ou o amor-próprio, ainda não sei distingui-los bem.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.