17.11.24

Passado, futuro

Estamos no Outono, faz frio, fecho-me nos cobertores e penso nos versos de Baudoin sobre a Primavera:

"Mais l'air du printemps est une chose souple et tendre;

Les pores s'ouvrent, l'air entre en nous 

et nous, nous répandons délicieusement en lui."

(A citação é de memória, a versificação também.)

Começou com a noite: os poros abrem-se à noite e ela entra em mim; mas não, não era isso. Continuei a procurar o que poderá ser, já que o ar da Primavera não é de certeza. Tentei o tempo. Qual tempo - o que foi? O que será? Há sem dúvida qualquer coisa que entra em mim e na qual eu me espalho,  em paz, uma paz tão perto da felicidade que quase se confundem. Quase.

É o presente, a parte do tempo que se esquiva, fugidia, escorregadia. Quando se aperta um balão que está mal cheio uma parte do ar vai para um lado, a outra para o outro e o que nos fica na mão é um bocadinho de borracha sem nada, um anel que nem anel é - o presente. Passado e futuro estão de cada lado desse vazio, o ar escapa-se de um para o outro e não se demora no meio.

Espalho-me deliciosamente no ar do presente: sou a parte do balão que separa o que foi do que será. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.