Estamos no Outono, faz frio, fecho-me nos cobertores e penso nos versos de Baudoin sobre a Primavera:
"Mais l'air du printemps est une chose souple et tendre;
Les pores s'ouvrent, l'air entre en nous
et nous, nous répandons délicieusement en lui."
(A citação é de memória, a versificação também.)
Começou com a noite: os poros abrem-se à noite e ela entra em mim; mas não, não era isso. Continuei a procurar o que poderá ser, já que o ar da Primavera não é de certeza. Tentei o tempo. Qual tempo - o que foi? O que será? Há sem dúvida qualquer coisa que entra em mim e na qual eu me espalho, em paz, uma paz tão perto da felicidade que quase se confundem. Quase.
É o presente, a parte do tempo que se esquiva, fugidia, escorregadia. Quando se aperta um balão que está mal cheio uma parte do ar vai para um lado, a outra para o outro e o que nos fica na mão é um bocadinho de borracha sem nada, um anel que nem anel é - o presente. Passado e futuro estão de cada lado desse vazio, o ar escapa-se de um para o outro e não se demora no meio.
Espalho-me deliciosamente no ar do presente: sou a parte do balão que separa o que foi do que será.
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