Às vezes fico desolado com a quantidade de coisas que me passam ao lado. Ou ao lado das quais eu passo, dependendo de aonde se quer pôr o sujeito. Não é coisa de que me envergonhe e muito menos orgulhe, regra geral. Mas não deixa de ser aflitivo. É como se estivesse à côté de la plaque em tudo. O problema sendo que quase nada do que interessa a maioria das pessoas me chama sequer a atenção, quanto mais interessar. Hoje no El Corte Inglés passei por um mostrador da marca Façonnable e lembrei-me de que antigamente era uma das minhas marcas favoritas. Tinha camisas e provavelmente calças dessa marca. Agora pergunto-me: quando foi antigamente? Já nem me lembrava daquilo. Não me lembro das outras marcas de roupa de que gostava. Mentira. Lembro-me de mais uma: Burberry. Tinha pullovers da Burberry. E tinha sapatos bonitos, pretos, com os quais ia trabalhar. Também gostava de escolher gravatas. Orgulhava-ne muito da minha colecção delas. E usava perfume: Fahrenheit. Esse nunca esqueci. Ainda hoje, quando passo pelo walk through do aeroporto de Palma esgueiro-me até ao mostrador da Dior para me borrifar um bocadinho com aquilo, de que continuo a gostar um monte. A última vez que comprei um frasco - enorme - foi no duty free de Colón. Custou metade do que custava um frasco normal na Europa. Durou mais de um ano e ficou no aeroporto de Lisboa porque o levava na bagagem de mão. Ainda implorei ao segurança que ficasse com o frasco e não o deitasse fora. Não é exagero, prometo. Implorei. O homem disse-me que não podia. Aquilo tinha mesmo de ir fora. Espero que estivesse a mentir e que no fim do seu turno tenha ido ao saco buscá-lo.
Mas na verdade essa caixa - a das camisas, gravatas, pullovers, sapatos Oxford - tão pouco era a minha. Saí dela com uma facilidade desconcertante porque na verdade eu usava aquelas coisas por razões puramente estéticas. Achava-as bonitas, simplesmente. Nunca fiz parte da tribo, mesmo que lhe vestisse os uniformes. Não era para copiar, imitar e muito menos para me integrar que o fazia. Apercebo-me regularmente da distância entre mim e a plaque quando leio no FB uma senhora que sabe tudo sobre moda e sobre os sinais de distinção social e sobre tribos sociais.
Já nem das marcas me lembro, quanto mais do que elas transmitem. Pior: não me lembro sequer de transmitir seja o que for. Penso em Baudrillard para compreender a função das marcas mas não para conhecer cada uma delas em pormenor.
Digo que sou um troglodita e apercebo-me sem orgulho mas não sei se sem vergonha de que é cada vez mais verdade. É que já nem sequer posso dizer que sou um troglodita bem vestido. Apesar de saber a diferença entre uma mala e uma carteira, entre tratar os filhos por tu ou por você, entre prenda e presente.
Ah, sei comer de garfo e faca e abrir a porta do carro às senhoras. Não deixo de ser um troglodita fora da caixa, mas pelo menos não estou tão longe dela como temia no início deste post.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.