12.12.24

Diário de Bordos - Lisboa, Portugal,

Noite de poesia "amadora".  Ponho aspas em amadora, mas deviam estar em poesia. Foi uma tortura. Não consigo compreender o que leva as pessoas a não ser capazes de avaliarem a esmagadora falta de qualidade daquilo que escrevem "brut de coffrage" [se alguém souber como se diz isto em português ficar-lhe-ia grato se mo dissesse], sem qualquer espécie de mediação. 

Digo que não compreendo, mas na verdade é inveja pura. Quem me dera ser capaz de não me morder os dedos a cada sílaba e deitar lá para fora tudo o que me passa pela cabeça (estejam os meus leitores descansados, amanhã não será a véspera desse fatídico dia).

Inicialmente a minha surdez selectiva funcionou às mil maravilhas mas pouco a pouco a indigência levou a melhor e deixei de conseguir evitar a derrocada. Ouvia tudo.

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Uma bióloga e um antropólogo unem-se para fazer vinho (e uma família). O vinho é inquestionavelmente bom. O resto parece-me irrelevante. Podiam ser os dois biólogos, antropólogos ou especialistas em doenças dos peixes-espada.

Podiam? Não sei.

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Passei pela luvaria Ulisses. Felizmente não comprei o par de luvas de que tanto preciso (por sinal bem bonito). Gastei a massa na A., que está doente e triste e no vinho da bióloga. Não menciono a "poesia", claro. Não teria sido gastar dinheiro. 

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Li um pouco de Li Bai, Omar Khayyam e E.E. Cummings. Gosto tanto de ler poesia em público! E pelo menos poupo aos outros os meus disparates.

(Os quais, para dizer a verdade, quando comparados àquilo - por exemplo - que hoje ouvi perdem  logo esse estatuto. Mas mesmo assim teriam de decantar muitos anos, antes de ser lidos perante uma assembleia desprovida de tomates e ovos podres.)

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Belém - Alvalade pela Infante Santo nas calmas. Ao menos isso.  Hoje fui ver preços de bicicletas eléctricas e isso sim, é um disparate completo. Custa o mesmo que um carro em segunda mão, tem as desvantagens todas das burras e tem poucas das vantagens. 

Enquanto as pernas funcionarem é essa a electricidade que usarei.

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