6.12.24

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 06-12-2024

A ideia original era comprar café no mercado de Santa Catalina; juntou-se-lhe a de ali beber um copo com a I. e o A. A taxa de realização foi de cinquenta por cento: o mercado estava fechado pois hoje é feriado. Passei um bom momento - bom nos sentidos de bom e de largo - com o A. É a pessoa que mais subavaliei nos últimos duzentos e cinquenta anos e mais injustamente. I. estava preocupada pois perdeu um xale e foi procurá-lo. Resultado: duas horas de conversa em português na Madeleine de Proust, uma pastelaria francesa, contrariamente ao que o nome levaria a supor. Fica ao lado do mercado e vou lá de vez em quando. Finda a conversa venho complementar o almoço ao Jonny's Dhaba, história de preparar a cama para a sesta.

(Fecha-se uma porta e abrem-se muitas outras, como reza a piada sobre os carros franceses. Quantas se abrem, pergunta o céptico que há em mim? Tantas quantas o futuro conta de dias, responde o optimista.)

O Jonny está cheio. Gosto da clientela desta casa, é gente boa e faz-me sentir assim também. Como restaurante indiano deixa um pouco a desejar, é certo, mas como restaurante é soberbo. Os restaurantes, tal como as cidades, são feitos das pessoas que os frequentam. A comida não é tudo. 

No Jonny encontro o D., o «meu» rigger, ucraniano, um tipo que para ir ao galope de mastros até vinte metros não precisa de grua nem de cadeirinha: chega lá com as mãos e não precisa sequer de se pôr em bicos dos pés. D. tem trabalho em todo o lado: Filipinas, Singapura, Caraíbas... Este ano até à Austrália foi, um país onde toda a gente sabe não haver riggers capazes. Fala-me da guerra e dá-me informações absolutamente horrorizantes. É a favor da entrega dos territórios à Rússia, opinião sustentada pelas tais informações - que no caso dele vêm em primeira mão. Não respondo, claro. Limito-me a dizer que sim e a confirmar que numa guerra não há bons nem maus. Há os que têm razão e os que a não têm.

Dali venho à Cantina beber um rum. Para quem não gosta de despedidas esta arrasta-se até mais não ver. 

E disto se faz um dia. Verifico se o P. está pronto para o badanal que aí vem - está, mas de qualquer forma estarei a bordo - espero por segunda que é quando poderei ir buscar as caixas para a mudança, por terça, quando apanharei o avião e durmo a sesta, bendita sesta.

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Ao contrário de Coimbra Palma não tem mais encanto na hora da despedida. Bem sei que em breve estarei cá de novo, mas não será a mesma coisa. Palma fica uma cidade triste quando ouve alguém dizer-lhe adeus.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.