Não é de certeza por acaso que a imagem do sismógrafo não te sai da cabeça. Um sismógrafo priápico, excitado com a quantidade de sismos com que deve lidar simultaneamente. Sismultaneamente, dirias se alguma coisa pudesses dizer e não fosse fácil de mais, tantos os tremores que te abalam as fundações. Lou Reed canta a agonia de um amigo que lhe era próximo, hoje conseguiste não pensar na tua agonia e pensas que devias um dia erguer um altar a todas as mulheres que não te levaram para a cama, ver se o sismógrafo acalma, se sabe nadar num largo rio tranquilo.
Sabe, claro que sabe. É um sismógrafo sensível e adaptável. Sente a mais leve das vibrações e adapta-se a todas. Até à de uma noite sem sono e sem frio, sem luz e sem amanhã, noite de noites, noite fugida do calendário, escondida entre sismos, mergulhada em medos e em coragens, noite contraditória: tudo e o seu contrário (que não é nada, lembra-te. O contrário de tudo é tudo).
Cavafy: que faremos sem os bárbaros? Quando regressares a Ítaca pede que o caminho seja longo.
Pizarnik: Que haré con el miedo / que haré con el miedo ¿Qué haré conmigo?
Borges: Sólo una cosa no hay. / Es el olvido.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.