Dormes com dois edredons dobrados ao meio. Quatro camadas de calor. Escuridão absoluta, ruído zero. És um sem domicílio fixo de luxo, alguém um dia te disse. A amizade é um castelo e o amor uma palhota. Uma espécie de história dos três porquinhos ao contrário: a casa que a priori parece mas forte é a que desaba primeiro; a que foi feita primeiro é a que dura mais tempo. Quem sopra? A vida, dirias, se te apetecesse aconchegar-te nos lugares-comuns como te aconchegas debaixo dos edredons. Na insuportável simplificação de "a vida". Fica "a vida". Estás farto de complexidades, complicações e afins. Voltaste à casa da partida, que é a ausência de casa. Voltaste à vida, que é a ausência de morte. Voltaste à ausência, presença constante. "Who is the third who walks always beside you?", perguntava Eliot. Se fosse eu, perguntaria "Quem é o outro que caminha sempre ao teu lado?" e a resposta seria "Ninguém". Não o de "O meu nome é Ninguém" mas ninguém, mesmo, ausência de alguém. Seria um mentira, claro. Há sempre uma parte de mentira no queixume, na pieguice. Até na poesia há, quanto mais na vida.
N'empêche. Vou na estrada de regresso ao ponto de partida, acompanhado pelos de sempre: Ninguém, eu e a realidade, que me alberga e chicoteia a lamechice, essa cadela piolhosa.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.