Sabem aquela canção da Simone (chama-se Pedaço de Mim, creio que a letra é do Chico Buarque e é linda de se morrer) que fala da saudade e diz que é o pior tormento, pior do que o esquecimento, pior do que tudo e mais alguma coisa? Pois eu conheço um tormento pior. Pior do que ter sede e não ter uma cerveja no frigorífico, pior do que ter fome, pior do que amar e não ser correspondido. É procurar por uma palavra que tenho debaixo de mim - enfim, debaixo da língua, ali ao alcance dos dedos que a esperam freneticamente, estacionados no teclado do computador - e me foge, a sacana. Hoje aconteceu-me outra vez. Acontece-me todos os dias, com maior ou menor intensidade, maior ou menor duração. Desta vez foi aterrador. Procurei a partir de sinónimos - esses não escapam, estão todos lá, a mangar comigo - procurei a partir da definição, chateei amigos e nada.
Foi preciso vir deitar-me para que ela me aparecesse, feita virgem sorridente em cima de uma oliveira ou azinheira ou coisa que o valha. A cama, essa grande fornecedora de palavras desaparecidas, de frases perfeitas, de ideias luminosas e planos infalíveis devolveu-ma intacta, tal e qual eu a procurava.
E ainda há quem seja contra os telefones portáteis na mesa de cabeceira.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.