Para adormecer, F. põe-se de sentinela numa das extremidades da ponte que o liga à noite. É por ela que o sono chega. A vigília é sui generis: consiste em relaxar todos os músculos do corpo, um a um. Tarefa a que F. se dedica com a aplicação que põe em tudo o que faz. Começa por fechar os olhos, deitar-se de lado, cruzar os braços e pôr as mãos nos ombros - a direita no esquerdo e a esquerda no direito - encolher as pernas, bem dobradas, como se quisesse levar os joelhos ao queixo, respirar fundo durante pelo menos um minuto e depois distender-se lenta mas completamente. O sono chega pela tal ponte - a ponte do sono nascente, como ele lhe chama - umas vezes ruidosamente, outras muito de mansinho.
Os obstáculos ao avanço do sono são dois: palavras e números. Nunca andam juntos, deo gratias. E não atacam todo as noites. Só algumas, aquelas em que a ponte fica mais longa.
(Cont.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.