Por onde começar a analogia - escolher as palavras como se escolhem as gravatas ou estas como aquelas? Talvez não haja um princípio. Talvez isto esteja tudo ligado, redondo, «inteiro» como dizia o outro e se deva escolher do mesmo modo gravatas, palavras, cafés, livros, vinhos, uma rota - e não continuo a enumeração por pudor. Talvez se possa ir mais longe e escolher os dias, a Lua, o vento com o cuidado e o rigor que se põe na escolha de uma gravata, na elaboração do nó de maneira a que a extremidade fique no sítio certo, o pescoço respire e possa voltar-se (discretamente, muito discretamente) para observar um pormenor que passa fugaz no sentido oposto. Talvez o rigor se aplique tanto ao trabalho que a sorte dá como ao esforço que o azar requer, são de igual intensidade; ou à escolha de uma tecla no piano em detrimento da do lado, à selecção de um olhar em vez de outro - porque o olhar é mais importante do que os olhos que olham e deve escolher-se o olhar de que somos alvo tal como escolhemos o poema que queremos ler, dizer ou ouvir.
Talvez no fundo a arte seja viver engravatado sem ser engravatado. Sem, sequer, ter uma gravata.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.