24.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 24-04-2025

Ontem publiquei uma fotografia das provas de mar. Ou melhor: do almoço depois delas

(Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 24-04-2025)

Comecei a escrever isto há dois dias. Ainda sei porquê: a fotografia era apenas uma pequena parte da realidade, como o são todas as fotografias. Naquele dia descobri que tinha o casco sujo que dava para alimentar o aquário de Lisboa (o grande, não o Vasco da Gama), que o comando do piloto não funcionava e confirmei que tenho uma tripulação porreira - é essa e só essa a parte da fotografia.

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Agora ando com a cabeça cheia de trabalho - quando digo cheia é um understatement - e uma mistura de reflexões sobre as diferenças entre vergonha e consciência em paz. Ou seja: entre movimentos para dentro e para fora, para o interior e para o exterior. A vergonha tem a ver com o mundo que nos rodeia, a consciência com o mundo que nós rodeamos. É um distinguo importante, mais ou menos semelhante à diferença entre ética e moral. 

Isto dito: trabalho, trabalho e trabalho e estou feliz com o meu trabalho. Não tem a ver com a falta de modéstia - defeito de que não posso ser acusado, dada a má impressão que tenho de mim - mas sim com o facto singelo de gostar do que faço e saber que não sou o pior. Talvez não seja o melhor - não sou - mas tão pouco sou o pior. Talvez o problema não seja sequer ser o pior ou o melhor. Talvez seja simplesmente saber que podia ser muito pior. Isto é: podia ser eu. 

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O MADRIGAL VI está varado e a ser pintado por um gajo que me inspira tanta confiança como as leis de Newton e eu aposto que amanhã estou na água outra vez com um casco limpo e se Deus quiser limpo por muito tempo. Vamos a ver. Comprei um antifouling cuja marca desconheço, mas que é três vezes mais barato do que a que conheço. Basta não ser três vezes pior.

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Hoje queria ir dormir ao hotel, mas o Centr'hôtel está cheio. Se alguém imaginasse o que preciso de um quarto com ar condicionado e uma cama confortável ganharia de certeza o Nobel da literatura. Ou da paz, vá lá saber-se.

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Se tudo correr bem largo quarta-feira. Não vai, eu sei. Mas se sair quinta já fico bastante contente e considerarei que tudo correu pelo melhor.

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O dia chegado ao fim organizei uma corrida entre um rhum punch no Lagoonies e um duche, Ganhou o rum e não consigo impedir-me de pensar que não é propriamente inesperado. E que devia aprender a fazer apostas. Aposto que ganharia.

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