O trabalho teve uma pequena acalmia mas agora, com a proximidade da largada, arrancou de novo com a energia de uma raposa esfomeada. Hoje às dez e meia da manhã já tinha fornecido pelo menos três quartos de um dia de labor. Agora preparo-me para ir para a Marina de Fort-Louis. Estou farto deste acampamento e quero um pouco de conforto para os últimos dias em terra.
Amanhã é o último dia. Baldeação - o bote está imundo -, lavandaria, deixar o carro, ir a Philipsburg decidir se compro a Nikon ou não (a resposta será sim, aposto), ir à Ile Marine para o Iridium - o preço está escandaloso, de novo - fazer o planeamento no GPS de bordo e no do computador, desenhar o livro de bordo, fazer o relatório diário para o proprietário... Não vou ter muito tempo para saudades antecipadas.
Desta ilha levo aquilo que sempre levei: o epítoma da expressão mixed feelings. Vai ser preciso deixar decantar isto tudo, lembrar-me das alegrias e esquecer as tristezas, lembrar as belezas, que são tantas e esquecer as fealdades, igualmente numerosas.
.........
Arrependo-me de não ter comprado a máquina. Fotografar é como escrever e ambos são como respirar. Não importa se o faço mal, importa que sem eles não vivo. Espero que não a tenham vendido entretanto.
........
Cantar laudas sem saber cantar. Talvez seja isso a vida. Não sei. Talvez. Bom título para o próximo livro: Talvez. É a continuação do Don Vivo, essa grande sequência de Talvez.
.........
Se tivesse de escrever uma carta de amor, a quem a escreveria? Vêm-me alguns nomes à mente e pergunto-me: porquê só uma? E: que teriam em comum?
A resposta seria: uma mistura de queixas sobre a minha estupidez e de espantos sobre a minha sorte.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.