O tema do dia é a morte de um jogador de futebol e a ida ou não ida de outro ao funeral do primeiro. E ainda há quem me critique por eu viver à côté de la plaque. (Isto dito, tenho imensa pena do senhor e da família. Dos fãs do homem também tenho, mas pouca. Ganhem juízo ou pelo menos não desperdicem o pouco que têm.)
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Cantinho vaidoso: fui à Tipika - na vedade fui ao Morey beber um vermute e como a Tipika fica em frente fui lá, aquela loja é uma maravilha. A Petra disse-me que uma senhora alemã dona de uma galeria de arte que expõe muita fotografia adorou as minhas.
É preciso acreditar nas virtudes do abulismo. Dito de outra forma: acredito nas virtudes do tempo.
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Cantinho do vaidoso II
Ontem, a senhora do filtro de segurança do aeroporto de Genebra elogiou o meu chapéu. «Muito bonito», disse ela (em francês, claro). Hoje o Ivo disse o mesmo da minha mochila de couro (em espanhol).
Gosto muito destes elogios, mas prefiro o das fotografias. E os que me fazem aos livros, mais raros mas mais comoventes - escrever é mais custoso do que fotografar, por uma razão que não percebo e talvez por isso acho injusta.
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Venho ao Café Verde beber um tinto de verano. «Más tinto que verano», explico ao senhor que me serve. Ele ri-se e faz o que lhe peço. Está calor mas há uma brisa leve, restos da térmica da tarde. Em breve desvanecer-se-á. O café Verde fica na praça de la Mercê, a dois minutos de casa. Há muito pouco trânsito porque a zona é acire (acesso restrito). Vai calma a tarde: Palma entra-me pelos poros, também; e não só pela boca ou pelos olhos. Pergunto-me aonde ir jantar, penso na senhora alemã dona de uma galeria de arte - vai abrir uma em Palma e talvez me contacte, penso no transporte para o Panamá que muito provavelmente não terei e tanto gostaria de ter, mesmo sendo só da República Dominicana, penso no que devia escrever e não escrevo e no que escrevo, penso nas virtudes da espera e de como não me tornar a personagem da Fera na Selva, que morreu de esperar. Ou melhor: não viveu, de tanto esperar. Há um equilíbrio a encontrar, uma linha muito fina, uma indecisão... Uma força vital, diria Nietzsche. Um pêndulo titubeante, indiferente, resistente à gravidade. Respirar sem querer. Introduzir Beckett na equação.
Venho ao Café Verde beber um tinto de verano. «Más tinto que verano», explico ao senhor que me serve. Ele ri-se e faz o que lhe peço. Está calor mas há uma brisa leve, restos da térmica da tarde. Em breve desvanecer-se-á. O café Verde fica na praça de la Mercê, a dois minutos de casa. Há muito pouco trânsito porque a zona é acire (acesso restrito). Vai calma a tarde: Palma entra-me pelos poros, também; e não só pela boca ou pelos olhos. Pergunto-me aonde ir jantar, penso na senhora alemã dona de uma galeria de arte - vai abrir uma em Palma e talvez me contacte, penso no transporte para o Panamá que muito provavelmente não terei e tanto gostaria de ter, mesmo sendo só da República Dominicana, penso no que devia escrever e não escrevo e no que escrevo, penso nas virtudes da espera e de como não me tornar a personagem da Fera na Selva, que morreu de esperar. Ou melhor: não viveu, de tanto esperar. Há um equilíbrio a encontrar, uma linha muito fina, uma indecisão... Uma força vital, diria Nietzsche. Um pêndulo titubeante, indiferente, resistente à gravidade. Respirar sem querer. Introduzir Beckett na equação.
Ir a casa deixar as compras e ir jantar.
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ADENDA
ADENDA
A ideia original era jantar num sítio novo mas acabei no Jaume e num polvo à galega que é, continua a ser, o melhor de Palma. Juntai-lhe música mais do que decente, um quadro lindo, o melhor vermute de sempre, a habitual recepção reservada do Jaume (o outro) e calorosa da mulher do Jaume (o dono, que hoje não está), a sequência de mulheres bonitas que desfilam à minha frente, juntai tudo isso, agitai devagarinho, docemente, como quem faz uma festa a um bebé que está a dormir e a pergunta é óbvia: ir aonde? Estás louco?
O vermute, já aqui o disse e repito, chama-se Luis XIV. Não venham a Palma não que não é preciso. Não amem Palma. Não mergulhem nesta cidade como no corpo de uma mulher amada. Não façam nada disso que não é preciso. Não respirem.
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Já aqui expliquei a diferença entre pairar e derivar: esta é involuntária, aquela não. Estou a pairar. Máquinas paradas, panos arreados, ansiedade em suspensão. Tenho uma vaga ideia de para onde a corrente me leva mas não quero pensar muito nisso. Não quero pensar muito, aliás. Quero beber vermute, pedalar para casa e dormir. É um programa que preenche o espaço todo entre mim e o horizonte. Os horizontes: são muitos.
Já aqui expliquei a diferença entre pairar e derivar: esta é involuntária, aquela não. Estou a pairar. Máquinas paradas, panos arreados, ansiedade em suspensão. Tenho uma vaga ideia de para onde a corrente me leva mas não quero pensar muito nisso. Não quero pensar muito, aliás. Quero beber vermute, pedalar para casa e dormir. É um programa que preenche o espaço todo entre mim e o horizonte. Os horizontes: são muitos.
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Tratar da vista, por exemplo. E comer uma sobremesa aqui em vez de ir ao Gibson beber um rum.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.