Ontem, avião Palma - Lisboa.
Estou inquieto, impaciente, nervoso, ansioso e tudo isto sem razão nenhuma aparente. Pelo menos às segundas, quartas e sextas. Às terças, quintas e sábados esta febrilidade é mais do que justificada. Aos domingos não sei. Talvez cortando o dia ao meio? Talvez decidindo que não estou nada disso e estou em paz?
A viagem está a demorar imenso, Espanha nunca mais acaba, seja por mar, ar ou alcatrão.
Resumindo: o livro (Não sei) já tem editor; a época correu relativamente bem. St.-Martin - Ibiza, Lisboa - Mallorca, charter, day charter e charter e day charter, charter em Mallorca, Andratx - Porto. Da carcaça só me queixo dos olhos e disso tratarei amanhã em Lisboa.
Não sei. Devo ter uma espécie de ansiedade tectónica, subjacente, que por vezes se manifesta sem que se perceba porquê, como um episódio de herpes labial ou esta vontade de comer sardinhas assadas que não me larga desde que descolámos.
Amanhã tenho um dia cheio. Depois volto para Palma, sexta está livre e sábado começo um charter. Num monocasco. Ainda não consegui o meu objectivo: passar uma época só com lanchas e day charter.
Começámos a descida. Atravessamos uma camada de cirrus que veste a paisagem de tule semitransparente. O castanho alaranjado da terra empalidece e fantasmagoriza-se. Quero chegar depressa e quero arrumar os meus livros e depois ir a Genebra e à Sicília e depois ao Panamá, see Deus quiser. Oxalá. Inch'Allah.
A paisagem é toda igual. Ainda não saímos da meseta. O avião imobiliza-se, fica parado neste algodão translúcido. Quero chegar. Venho à janela, eu que nunca gostei deste lugar. Agora gosto porque me permite dormir mais facilmente. Isto é, quando não estou nesta ânsia que nem acordado me deixa estar, que não acaba nem começa, que parece esta interminável camada de cirrus e de meseta árida.
Estou com frio, mas não sei de onde vem, se de fora se de dentro. Não teria servido de nada trazer o casaco de linho branco. Vê-se o mar. Chegámos. Agora sim, a descida acentua-se. O trem de aterragem saiu. Aterrámos.
Estava convencido que viria a Lisboa para gastar uma fortuna no oftalmologista e ouvir «Volte cá quando puder». Afinal gastei a fortuna (por sinal até coincidiu o que gastei com o que pensava ia gastar) e ouvi: «Vamos tratar disso agora.» Só isto justifica a vinda e o respectivo custo (duas propostas de charter recusadas, mai-lo o resto todo). Troquei a ida a Cascais por uma sesta. Estava cansado de mais. Comi sardinhas decentes no Alga (as de ontem nem para pâté serviam). Encontrei tripulação para o transporte Andratx - Palma. Continuo febril e ansioso mas como hoje é dia de não saber porquê não perco muito tempo com isso. E se não for passa a ser.
O Terminal dois está consideravelmente melhor. Já não parece que estamos num aeroporto de província do Togo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.