A viagem para Ibiza foi a habitual mistura de banalidades: bom tempo, um bocadinho de chuva, um bocadinho de muito vento, um bocadinho de tudo banhado em cansaço. Cheguei às quatro da manhã, não havia lugar para mim no pontão mas os marinheiros deram-me uma bóia, dormi bem e pouco. Quem gosta de vidas variadas deve evitar a de skipper, que é muito parecida com o mar aonde se passa: muda imenso e é sempre o mesmo. Bom, banhada em cansaço e em alegria, prazer, não digo felicidade porque não gosto de palavrões.
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Tenho a tarde livre em Ibiza, cidade que aprecio medianamente e conheço pior. Preparo-me para umas horas de turismo como deve ser: sentar-me num café e esperar que a cidade passe por mim, em vez de a calcorrear eu com a mochila às costas. (Mochila essa que contém a máquina fotográfica, mas a esta hora é pouco provável que haja luz decente para fotografar seja o que for.) A dificuldade deste método de turistar é a escolha do café. Os parâmetros são muitos e contraditórios: estar bem situado, ter a correcta mistura de turistas e locais (com preponderância parav estes, naturalmente), ser confortável para se escrever, não ser «gourmet fusion poke et al.»
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Tenho de escrever um texto sobre a dor. Tenho devia levar aspas: não tenho. Quero. A relativa ausência de dor em que me encontro - relativa sendo aqui a palavra-chave, porque é exactamente a que me vai servir de mote para o texto - torna o exercício bastante sedutor. Tenho é de o escrever antes de o relativo se transformar em absoluto.
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Em Ibiza nunca sei aonde comer (e acessoriamente fazer turismo). Escrevi o que antecede no Café-Teatro Pereyra, um lugar adorável mas que não satisfaz todas as condições: tem pouca gente. Mas que é bonito e confortável e apelativo é.
Depois decidi apangar o touro pelos cornos, por assim dizer. Liguei para o D. S., que é daqui e teve a gentileza de responder ao meu pedido: um sítio para comer mal, caro, feio e longe de tudo.
Resposta: Barra da la Bientirada. Não sei se Bientirada significa o nesmo do que significaria em francês, mas vou perguntar e já digo.
Sim, tem. Isto está cada vez mais apelativo.
Fica na Avinguda Bartomeu de Rosseló, 11, se por acaso alguém quiser beber uma cerveja ou comer uma excelente tapa na bem coisada.
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Contrariamente ao habitual, sento-me no exterior e como é costume regozijo-me: em alguns casos uma esplanada pode ser melhor que- ou pelo menos tão bom como - o interior, apesar do ar condicionado.
Em primeiro lugar, as senhoras rivalizam em beleza com as de Palma, o que atenua largamente o efeito do calor. Enfim, substituiria um por outro, se tal fosse possível. Em segundo lugar, a vista é muito mais bonita, apesar de estar numa avenida de lojas.
Sou pássaro de ar livre e se por vezes me fecho é para melhor apreciar a alternativa.
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Problema: aqui chegado isto pede sesta e a menos que vá para o aeroporto não vejo aonde.
Devia haver um café Fábulas em todo o lado. Incluindo Lisboa, aonde fechou por obra e desgraça do demo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.