Comecemos pelo fim (ou quase): a cerveja Kebbaberia di Tonno. Foi-me proposta como sendo «a cerveja da casa», conceito esse que me incendiou imediatamente a curiosidade, que tenho facilmente inflamável. Quando a garrafa chegou, vi que é cerveja artesanal, coisa que me põe logo de pé atrás. Ao primeiro gole o pé voltou à sua posição habitual. Depois chegou o tonno ammuttonato e apercebi-me de que o raio da cerveja o acompanhava bastante bem (aquilo estava tão bom que possivelmente até com água iria). Li o rótulo todo. «Sugerido para acompanhar... pratos de atum...» Não fazia ideia de que uma cerveja pode acompanhar pratos de atum e muito menos quando estes estão uma delícia sem fim. Além de que o conceito «cerveja da casa» me parece bastante interessante e se um dia eu tiver uma casa de comidas vou adoptá-lo. Cerveja da casa, vinho da casa, vermute da casa, Marsala da casa, tudo da casa
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Continuemos a desenrolar o filme: Favignana é a maior ilha das Egadine e a cidade homónima a sua (delas, ilhas) capital. É basicamente um buraco de turistas mas as ilhas devem ser bonitas. Vistas do mar são-no, sem dúvida. Até ao século XIX - ou meados do XX, mais provavelmente - eram o principal ponto da tradicional mattanza mas a escassez de atum fez dessa tradição um assunto de museu. Hoje ficam o museu - aonde ainda não fui -, os pratos típicos e as ruas com poucos turistas, felizmente. Para alguma coisa servirá estarmos no fim de Setembro.
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O que me leva ao almoço, de novo: o meu método favorito de visitar um lugar qualquer é sentar-me num café e esperar que ele passe por mim, perdoem-me a múltipla repetição. Andar pelas ruas a olhar para prédios não me parece a melhor forma de conhecer seja o que for. Hoje, esse método revelou-se ou um redondo falhanço ou um redondo êxito: o restaurante aonde fui almoçar estava numa rua aonde não passava vivalma. No Inverno esta ilha deve ter «menos vida do que o cemitério de Chicago» (aspas porque cito).
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Volvendo atrás: Marsala. Restaurante Antica Trattoria da Pina. A melhor sopa de lagosta de sempre. Não tenho a certeza de que o comparativo seja adequado porque não é coisa que coma frequentemente mas que estava uma simples maravilha estava. Aperitivo na Enoteca La Strada di vino di Marsala (?). O quadro é lindo e a caponata excelente.
Preferi Marsala a Trapani: menos turistas, o centro mais limpo.
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Trapani: aperitivo num café qualquer do centro e dali fomos a Erice, ali ao lado, aonde jantámos. Uma espécie de Óbidos a setecentos metros de altitude, sem muito interesse (para mim. A parte da tripulação que lá voltou na manhã seguinte gostou bastante da catedral). O jantar foi uma desilusão para alguns e óptimo para outros. Vantagens da diversidade, sem dúvida.
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De qualquer forma, o que me fica destes sítios todos é a inultrapassável - e para mim inesperada - simpatia desta gente. As marinas de Maiorca deviam enviar o seu pessoal fazer estágios aqui. E a beleza das costas. E, sim, Marsala. E esta noção, comum a todo o Mediterrâneo e que não nos larga, de estar a pisar o chão que é pisado desde os Fenícios (desde muito antes, claro. Refiro-me a povos com história). Em 241 a. C. desenrolou-se nestas águas uma batalha naval entre Romanos e Cartagineses e foi com esta batalha, diz-me a Wikipedia, que Roma adquiriu o controle do Mediterrâneo. Tenho o mesmo sentimento cada vez que passo em Trafalgar. Estava na Flórida quando descobri que a minha casa é na Europa e que o Mare Nostrum é o seu jardim, porque faço parte desse nostrum.
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