Palermo tem seiscentos mil habitantes. A grande Palermo um milhão e duzentos mil. Isto faz da cidade que seja simultaneamente maior e mais pequena do que Lisboa. Até agora ainda só andei pelo centro: barulheira, caos, movimento, sujidade, buzinadelas dementes, bicicletas, trotinetas, peões, scooters, motas, carrinhas, tudo ao molhe e fé em Deus. Comi um arancino no mercado, grandes e bons, o arancino e o mercado, bebo cerveja Messina ou parecida, vinho tinto siciliano, faço fotografias desinteressantes e confirmo que como turista não sou grande coisa. A superfície das coisas interessa-me pouco (como a das pessoas, de resto). Nunca é demais insistir: as cidades são feitas de pessoas, não de ruas ou monumentos. Talvez por isso gosto tanto dos mercados: juntamente com os cafés e bares constituem janelas privilegiadas para se observar a gente em acção. Uma espécie de buracos na capa de ignorância que nos separa dos lugares.
Isto dito, é preciso ser honesto: se tivesse de escolher entre viver aqui e em Genebra, escolheria esta última sem hesitar um segundo. Acredito que isto seja muito mais "a vida" do que a helvécia. Mas "a vida" é muito cansativa, a partir de uma certa idade. Chata, por assim dizer.
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Ódios de estimação: a) pessoas que "fizeram" a Índia, o Peru, o Everest, o Marquês de Pombal às horas de ponta, Alfama e atravessaram o Tejo em dia de tempestade; b) pessoas que dizem "top"; c) pessoas que quando vão jantar em grupo a um restaurante insistem em pagar individualmente.
Que eu continue gostar dessas pessoas só demonstra a minha vastíssima abertura de espírito.
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Ódios que não são de estimação: pessoas que não sabem beber. "Quem não sabe beber vinho bebe mijo", ouvi muitas vezes durante a adolescência e a jovem idade adulta. É uma das muitas verdades que não se gasta com o tempo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.