6.11.25

Diário de bordos - Marina Rubicon, Playa Blanca, Lanzarote, Canárias

A livraria El Puente, em Arrecife, Lanzarote, Canárias é a versão local da livraria Snob em Lisboa: uma maravilhosa selecção de livros e um livreiro simpático, eficaz e conhecedor. Entra-se e em cinco minutos tem-se vontade de comprar os livros todos. Consegui limitar-me a três (o que me valeu ter recebido mais duas plaquetes, a escolher entre várias. Trouxe uma antologia de Nietzsche e outra de Cervantes). Encontrei finalmente a Cidade de Deus, de Santo Agostinho e descobri uma colectânea de cartas de Cioran. Resisti a uma série de textos em torno de Calasso, que é daquelas coisas que me enfurecem e enchem de orgulho simultaneamente.

(Sería injusto não incluir nesta comparação a livraria Palavra de Viajante, em Lisboa. Ao contrário do que se seria levado a pensar é uma livraria especializada em temas de viagem e também tem essa horrível qualidade de submeter quem lá entra a uma pressão enorme: como sair dali sem ter comprado tudo o que está exposto? Como não invejar a livreira, que deve ter lido pelo menos três quartos daqueles livros e sabe falar deles com propriedade? Como não agradecer a seja a quem for que manda nisto não ter acabado com livrarias maravilhosas, daquelas que tornam o acto de transferência de dinheiro do nosso bolso para o delas uma infinita fonte de prazer e esperança?)

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À frente da livraria há uma vermuteria  chamada Strava (ou coisa que o valha) cujo vermute de grifo é bastante aceitável; ao lado fica o restaurante uruguaio Barbacana, que recomendo vigorosamente.  Se eu tivesse de escolher um sítio para viver em Arrecife seria ali, naquela rua, naquele canto.

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Arrecife encantou-me tanto quanto Playa Blanca me repugnou. Não consigo perceber o que vêem naquilo os milhares de turistas que lhe pejam as ruas e de caminho enchem os ouvidos de quem calha passar-lhes perto com aquele horrível inglês do estuário, rasca, eles sem camisa, cobertos de tatuagens, acompanhados por mulheres gordas, feias e igualmente tatuadas (e felizmente com camisa). Às lojas de  bugigangas seguem-se bares feios e a estes lojas de roupa feia. Depois, o ciclo recomeça: bugigangas, bares, roupa. Tudo isto alheio ao mais pequeno toque de beleza ou sensibilidade. 

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Hoje vêm mergulhadores limpar-me o casco e amanhã largo para o Mindelo. Qualquer dia morro mas até lá ainda há muito que viver, muitas milhas por navegar e muitos livros para comprar e netos para ver crescer.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.