Optimismo é acreditar que o fim está já ali, ao dobrar da esquina; optimismo exagerado é acreditar que há um fim.
Ou será ao contrário?
29.12.05
28.12.05
Novidade
A sua vida profissional mudara, radicalmente; e ele estava neste novo estado como numa relação há muito desejada: feliz, intrigado e incrédulo.
Um casamento feliz
Foi um casamento feliz, que durou muitos anos e acabou bem: quando se reformaram, ela foi viver para a Índia, e ele para as Caraíbas. Não se deram sequer ao trabalho de se divorciar, e nunca mais se viram.
26.12.05
Boas festas, festas boas
Pela primeira vez em muitos, muitos anos tenho realmente algo que festejar. Isso muda um homem, e as festas.
22.12.05
A física e os físicos
A energia cinética é o produto da massa pelo quadrado da velocidade, e não o da velocidade pelo quadrado da massa. De todas as leis da física que conheço, esta é a mais erótica, e a mais misericordiosa.
21.12.05
Sinónimos
Será que "sorte" e "perseverança" são sinónimos? Não creio. Quando muito, "azar", porque é ele que nos obriga a perseverar.
20.12.05
Um corpo. Lisboa.
Ele gostava de se perder em Lisboa como eu gostava de me perder em ti: todos os recantos, mesmo os mais percorridos, escondem uma surpresa, sempre, a cada vez.
O teu corpo é como estas ruas de Lisboa, em cada canto uma novidade escondida, nunca vista antes, apesar de tantas vezes lhes ter passado devante: uma loja, um anúncio, um restaurante, um pormenor que nos salta aos olhos como se lá tivesse sido posto ontem - e não foi, está lá desde o princípio dos tempos, desde que tu és. O teu corpo é como a luz de Lisboa neste fim de tarde de inverno, luminosa e densa, branca e laranja, etérea e sólida. O teu corpo é como as ruas íngremes de Lisboa, que não nos cansam, por mais íngremes que sejam, nunca, de tão belas, surpreendentes. O teu corpo é como esta solidão que desde sempre me acompanha em Lisboa, tão triste e tão boa, e me acompanha agora, que penso em ti.
Para S. S.
O teu corpo é como estas ruas de Lisboa, em cada canto uma novidade escondida, nunca vista antes, apesar de tantas vezes lhes ter passado devante: uma loja, um anúncio, um restaurante, um pormenor que nos salta aos olhos como se lá tivesse sido posto ontem - e não foi, está lá desde o princípio dos tempos, desde que tu és. O teu corpo é como a luz de Lisboa neste fim de tarde de inverno, luminosa e densa, branca e laranja, etérea e sólida. O teu corpo é como as ruas íngremes de Lisboa, que não nos cansam, por mais íngremes que sejam, nunca, de tão belas, surpreendentes. O teu corpo é como esta solidão que desde sempre me acompanha em Lisboa, tão triste e tão boa, e me acompanha agora, que penso em ti.
Para S. S.
Uma vida...
...como uma linha de caminho de ferro de montanha, desenhada por um inglês bêbedo, construída por um chinês estupefacto de ópio e gerida por um atrasado mental universal.
Espera
As coisas compõem-se. Tudo se compõe, se não adormecermos ao volante, se não esperarmos sentados, se não desesperarmos, que tentação.
19.12.05
Metades - II
As pessoas, corpos imperfeitos (na maioria dos casos) e almas incompletas (sempre), não são, como os objectos, constituídas por duas metades apenas: todos nós temos várias, muitas ou poucas. Uma das minhas metades, e de todas uma das que mais gosto, é a Helena, do Digitalis. Porquê? Posts como este, por exemplo.
15.12.05
Escrever:
Passar as mãos por uma vida e limpá-las numa folha de papel (encore faut-il que cette vie eût meritée d'être vécue, racontée, ou essuyée).
Perguntas
Should I stay, or should I go?, pergunta-lhe a alma todos os dias. Ele não sabe que responder.
14.12.05
Metades
As várias metades de mim resolveram começar ou recomeçar várias coisas: em breve haverá novas de jantares, provas de vinhos, links e sabe Deus que mais.
13.12.05
Estranhas histórias
I - Nada os une, excepto o desejo comum de encontrar algo que os venha a unir.
II - Nada a fazer, querida, ando numa fase de amores inter-planetários.
II - Nada a fazer, querida, ando numa fase de amores inter-planetários.
12.12.05
A posteriori
Acariciar-te os seios, depois do amor; uma boa música depois de um bom jantar; a calma depois da dor: tudo o que é bom vem a posteriori.
Imagina...
...que estamos os dois sentados, a ouvir os Carmina Burana (na versão de Clemencic: não gosto da de Carl Orff, porque o romantismo não é para aqui chamado); imagina que acabámos de comer um jantar esplêndido, beber um magnífico whisky, de fingir que somos felizes, os dois. Imagina.
Diálogos possíveis
- How do you feel?
- I feel like you.
- Ashamed?
- I hate you.
- I would love to love you, too.
- I would love to love me.
- I feel like you.
- I feel like you.
- Ashamed?
- I hate you.
- I would love to love you, too.
- I would love to love me.
- I feel like you.
Vidas, fingidas
Era uma vida irregular: passava meses a fingir que era pobre, e, de vez em quando, um dia ou dois a fingir que era rico.
10.12.05
Monólogo
Um dia (antes de morrer, espero), terei de contar-te o que na realidade aconteceu. Ou melhor: o que não me aconteceu, que é muito mais - não consegui, por exemplo, deixar de te amar, nunca; nem deixar de ser o nómada que há muito não quero ser; nem ser rico, nem deixar de amar o mar, essa maldição abençoada. Tudo coisas que tentei, repara, durante muitos anos; melhor do que ninguém tu sabe-lo.
"Porque me dizes, então, que atingiste todos os teus objectivos?", perguntaste-me uma vez, lassa, farta, cansada. Estávamos na cozinha, tínhamos acabado de jantar. Uma daquelas refeições tão frequentes em nossa casa, caóticas, cada um comia vinte coisas diferentes, bebia bebidas diferentes - mas que tinham algo que nos unia e lhes dava sentido: o inesgotável prazer de estarmos juntos, sempre renovado, fosse numa mesa, num sofá ou numa cama; o gozo que ambos sentíamos em cozinhar as mais variadas coisas um para o outro; a liberdade. Mas naquele dia estavas triste - "porque pensas, ou dizes, que atingiste os teus objectivos?", insististe.
Porque na realidade consegui muitas coisas: amar-te, e ao mar, e ter-vos aos dois simultaneamente; consegui fazer do mundo a minha casa - ou melhor, no mundo fazer uma casa, do tamanho dele; e, sobretudo, consegui ser pobre sem ser miserável, o que é tão ou mais difícil do que ser rico sem ser arrogante.
II
Acima de tudo, consegui sobreviver a um sonho. E é isso que terei, um dia, que te explicar: mas é um programa ambicioso, porque os sonhos excluem, matam, afastam, aprisionam - e ganham, quase sempre; o que deixam fora de uma vida é muito mais do que eles, se bem que menos importante.
"Porque me dizes, então, que atingiste todos os teus objectivos?", perguntaste-me uma vez, lassa, farta, cansada. Estávamos na cozinha, tínhamos acabado de jantar. Uma daquelas refeições tão frequentes em nossa casa, caóticas, cada um comia vinte coisas diferentes, bebia bebidas diferentes - mas que tinham algo que nos unia e lhes dava sentido: o inesgotável prazer de estarmos juntos, sempre renovado, fosse numa mesa, num sofá ou numa cama; o gozo que ambos sentíamos em cozinhar as mais variadas coisas um para o outro; a liberdade. Mas naquele dia estavas triste - "porque pensas, ou dizes, que atingiste os teus objectivos?", insististe.
Porque na realidade consegui muitas coisas: amar-te, e ao mar, e ter-vos aos dois simultaneamente; consegui fazer do mundo a minha casa - ou melhor, no mundo fazer uma casa, do tamanho dele; e, sobretudo, consegui ser pobre sem ser miserável, o que é tão ou mais difícil do que ser rico sem ser arrogante.
II
Acima de tudo, consegui sobreviver a um sonho. E é isso que terei, um dia, que te explicar: mas é um programa ambicioso, porque os sonhos excluem, matam, afastam, aprisionam - e ganham, quase sempre; o que deixam fora de uma vida é muito mais do que eles, se bem que menos importante.
França
O altifalante anuncia que, "devido a um movimento social, não há circulação entre as estações do Chatelêt e ...". Desligo e não oiço o resto do anúncio.
Não seria mais correcto dizer "devido a um movimento anti-social, não há metro..."?
Não seria mais correcto dizer "devido a um movimento anti-social, não há metro..."?
Esperança
Um dia, já tarde, descobriu que afinal não queria morrer; não por causa da vida que tinha, ou tivera, mas pela que um dia viria a ter.
7.12.05
4.12.05
Queixas
Queixou-se-me várias vezes da falta de cortesia dos homens. Tanto lutaram pela igualdade que a obtiveram.
Anatomias
Ela tinha uns lábios de tal maneira grandes que beijá-los demoraria uma semana, provavelmente. Ao vê-los, pensei no teu ventre, na vastidão do teu ventre, que demorei uma vida a conhecer, e não esgotei.
Apodos
Ao contrário do habitual "arrogante", hoje trataram-me de "choramingas". Ambos são injustificados, mas prefiro "arrogante".
Incompatibilidades
Ela gostava de Paris tanto quanto ele gostava de Lisboa, e isso tornava-os incompatíveis.
1.12.05
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