1.1.10

Perspectivas

"On vit un cauchemar avec ces portugais sauvages au-dessus de nous. Si je n'aimais pas ce peuple, j'en serais dégoûtée à vie". Quem assim se exprime é uma senhora suíça, grande amiga minha (e ex-mulher, o que torna misteriosas - ou pelo menos incompreensíveis - as razões que a levam a "gostar deste povo"; mas isso é outra história, se bem dê uma boa ideia da sua incomensurável tolerância e abertura de espírito).

A verdade é que ela não gosta de festas de fim-de-ano e por isso foi para a montanha com a filha e umas amigas. Escolheram um chalet antigo, numa pequena estação de ski não muito conhecida; e logo por azar no andar de cima instalaram-se onze portugueses.

O chalet é antigo é não tem isolação sonora, pelo que a minha amiga e ex-mulher foi lá acima falar com eles logo no dia a seguir a terem chegado. Eles pediram muita desculpa, muita. E claro que tudo continuou na mesma: miúdos a correr ininterruptamente, gritos (aparentemente as mães portuguesas não conhecem outra forma de falar aos filhos), barulho até às tantas. Acresce que o apartamento é pequeno demais para tanta gente e portanto tiveram que se dividir em dois grupos - mas o ponto de encontro continua a ser aquele apartamento, pelo que aos ruídos habituais há os das portas a abrir e fechar a qualquer hora e sem qualquer espécie de precaução, as pessoas a subir e a descer escadas e a falar altíssimo (parece que os portugueses falam muito alto entre eles. Nunca tinha reparado).

Eu estou mesmo a ver como vão ser os relatos do fim-do-ano feitos pelos membros desse simpático e esclarecido grupo: "pá, aquilo foi uma curtição incrível. No andar de baixo estavam uma suíças que se fartaram de reclamar, mas a malta cagou nelas e dizia-lhes que sim. Os suíços são mesmo uns chatos, um gajo não pode fazer nada, ao mais pequeno ruído é logo a mandar vir. Mas mesmo assim foi curtido, fartámo-nos de skiar nas pistas negras e ... ... ...".

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