O primeiro passo está dado, a primeira ponte atravessada. A carreira foi capinada, está limpa e linda. Já começámos o segundo: o guincho funciona. Amanhã, se tudo correr bem, tê-lo-emos dado: o barco estará dois metros acima na carreira.
Na Europa esta operação duraria um quarto de hora.
Vai ser preciso enrolar o cabo no tambor do guincho, preparar troncos de palmeira (carnaúba) para pôr debaixo do barco, passar um cabo em torno do casco porque à popa tenho medo de partir qualquer coisa (estamos de popa para cima).
O dia esteve lindo, mas agora voltou a chover. Chove há horas, pelo menos três, ininterruptamente. Li uma vez que as chuvadas duram quatro horas, em média, mas suponho que essa média não conte com os trópicos. [A chuva parou ao fim de quatro horas].
T. arranjou um emprego num iate a motor.
Estou ansioso por me ver no mar, nem que seja num barco de pesca a caminho de S. Luiz, dois dias se tudo correr bem.
O carnaval diluíu-se com a chuva. Nem sombra de barulho. Deve ser a primeira vez na vida que aprecio a chuva. Só espero que amanhã ela volte para de onde veio.
Na quarta-feira vou a S. Luiz falar com o dono do estaleiro. Gosto daquela cidade, é das poucas no Brasil onde me senti realmente bem (a outra foi Belém do Pará). Estou contente por rever o centro, tão português. Foi em S. Luiz que encontrei uma livraria muito bonita, que só tinha livros antigos, raros, especiais. Comprei lá uma monografia do rio Parnaíba escrita pelo alemão que lhe fez o levantamento, no séc. XIX.
Deixei esse livro no Mango Bay, no Marin. Pensava que lá ficaria para sempre, mas no mesmo dia uma senhora pegou nele, fez uma cara de espanto e levou-o. Devia ser brasileira. Eu estava na minha mesa habitual, mesmo ao lado do sítio onde se deixavam os livros, mas não lhe disse nada.
Ontem decidi que nunca mais aceito um trabalho que não seja pago correctamente. Deve ser um sintoma de que estou a envelhecer. Espero que sim, de outra forma seria um sintoma de que estou a crescer, o que seria embaraçoso. Ou seja, vou mudar de vida, mais uma vez. É a primeira vez que acontece com tanta antecedência, tanto pré-aviso.
A caipirinha não se exporta bem. Aqui são todas boas, fora do Brasil não há uma que se aproveite. Enfim, há; sou injusto. Mas são raras. As pessoas ficam melhores quando saem da terra, nos dois sentidos de terra. O que há mais que viaje bem? O vinho tinto às vezes, depende; talvez o rum, os livros e alguma música. E as batatas claro, mas quem é que se interessa por batatas?
Os barcos viajam bem, mas são feitos para isso.
Olho para o B. e vejo-o como será daqui a uns meses. Suponho que não há maior prazer num trabalho do que esse. A única coisa que fiz até hoje que me deu mais satisfação, de um ponto devista profissional, foi o trabalho no Burundi e no Zaire.
É uma boa maneira de acabar um ciclo.
Na Europa esta operação duraria um quarto de hora.
Vai ser preciso enrolar o cabo no tambor do guincho, preparar troncos de palmeira (carnaúba) para pôr debaixo do barco, passar um cabo em torno do casco porque à popa tenho medo de partir qualquer coisa (estamos de popa para cima).
O dia esteve lindo, mas agora voltou a chover. Chove há horas, pelo menos três, ininterruptamente. Li uma vez que as chuvadas duram quatro horas, em média, mas suponho que essa média não conte com os trópicos. [A chuva parou ao fim de quatro horas].
T. arranjou um emprego num iate a motor.
Estou ansioso por me ver no mar, nem que seja num barco de pesca a caminho de S. Luiz, dois dias se tudo correr bem.
O carnaval diluíu-se com a chuva. Nem sombra de barulho. Deve ser a primeira vez na vida que aprecio a chuva. Só espero que amanhã ela volte para de onde veio.
Na quarta-feira vou a S. Luiz falar com o dono do estaleiro. Gosto daquela cidade, é das poucas no Brasil onde me senti realmente bem (a outra foi Belém do Pará). Estou contente por rever o centro, tão português. Foi em S. Luiz que encontrei uma livraria muito bonita, que só tinha livros antigos, raros, especiais. Comprei lá uma monografia do rio Parnaíba escrita pelo alemão que lhe fez o levantamento, no séc. XIX.
Deixei esse livro no Mango Bay, no Marin. Pensava que lá ficaria para sempre, mas no mesmo dia uma senhora pegou nele, fez uma cara de espanto e levou-o. Devia ser brasileira. Eu estava na minha mesa habitual, mesmo ao lado do sítio onde se deixavam os livros, mas não lhe disse nada.
Ontem decidi que nunca mais aceito um trabalho que não seja pago correctamente. Deve ser um sintoma de que estou a envelhecer. Espero que sim, de outra forma seria um sintoma de que estou a crescer, o que seria embaraçoso. Ou seja, vou mudar de vida, mais uma vez. É a primeira vez que acontece com tanta antecedência, tanto pré-aviso.
A caipirinha não se exporta bem. Aqui são todas boas, fora do Brasil não há uma que se aproveite. Enfim, há; sou injusto. Mas são raras. As pessoas ficam melhores quando saem da terra, nos dois sentidos de terra. O que há mais que viaje bem? O vinho tinto às vezes, depende; talvez o rum, os livros e alguma música. E as batatas claro, mas quem é que se interessa por batatas?
Os barcos viajam bem, mas são feitos para isso.
Olho para o B. e vejo-o como será daqui a uns meses. Suponho que não há maior prazer num trabalho do que esse. A única coisa que fiz até hoje que me deu mais satisfação, de um ponto devista profissional, foi o trabalho no Burundi e no Zaire.
É uma boa maneira de acabar um ciclo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.