13.3.12

Parnaíba, Piauí, Brasil, 12-03-2012 (cont.)

Se tivéssemos de começar pelo princípio, por onde começaríamos? Por uma incontrolável vontade de vinho, um copo de vinho, um vinho já não digo bom, mas pelo menos decente.

A quatorze euros e vinte e nove cêntimos a garrafa o Costa Pacífico não é propriamente barato; mas é, verdade seja dita, uma merda. Verdade seja ainda dita que tem uma qualidade: é a primeira Syrah que bebo que é uma merda e não é imbebível (apesar de lá estar perto, muito perrrrto).

[O meu Pai carrregava nos èrrres. Uma das imagens da minha vida é ouvi-lo comentar um vinho com o P. da F., seu amigo de casa e do coração, na Venezuela. "Estes vinhos chilenos não são maus. Não percebo porque é que essa malta da esquerda não gosta do Pinochet. Um gajo que faz vinhos assim não pode ser mau".]

Mas não vamos começar pelo princípio. Vamos começar pelo fim, por este rio, sempre o mesmo, tão belo; pela música que quando cheguei estava óptima mas era só o saxofonista a aquecer, agora está como o vinho, uma merda pechisbeque, pimba, mas bem executada; pela caipirinha sem açúcar, a primeira coisa boa desta noite na qual um penne bolognese demora mais de meia hora e uma mousse de maracujá outro tanto.

Salva-se, salva-me o rio, a ideia de estar contigo um dia não muito longe (é um oxímoro, eu sei), o saxofonista. Depois da chuva não há vento, são os únicos momentos sem vento nesta cidade e agora vêm a matar.
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Não quero vento e queria um bocadinho de boa música, mais um; ou então silêncio, porque o rio está silencioso, imóvel, e é assim que eu quero este momento: silencioso e imóvel.

Recomeçou a trovoar. Tive a primeira ameaça de conhecer a burguesia local, mas é provável que me vá embora antes, se Deus quiser e a chuva não continuar.

A coisa mais parecida com a pizzaria O Comilão onde já estive é uma cantina de estivadores. Não é completamente deslocado porque esta área da cidade chama-se Porto das Barcas e é o antigo porto da cidade, mas não é por isso que e agradável. Pelo menos a senhora deixa-me beber o vinho e - Allahu Akbar - não fala tanto como a irmã. Não falou nada, mesmo, para além de me cumprimentar e responder que sim, podia beber o vinho.

E sim, posso esperar por esse dia oxímoro. E sim, o vento voltou.

......
A música está a tornar-se grotesca. Deve ser hora de ir para a cama.

2 comentários:

  1. Vamos ver se atino com o sistema de fazer os comentários. Ou estou a ficar senil, ou isto está armadilhado. Dos vários comentários que já escrevi, consegui enviar um. Quase senil....

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  2. Teoricamente foi para o ciberespaço e aterrou em terras de Sta Cruz. O comentário? esqueci-me! Faz de conta que era um mau solo de sax!

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.