16.3.12

Parnaíba, Piauí, Brasil, 16-03-2012

Não foi.

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Isto é injusto. Exprime a minha decepção, mas não tudo o que fizemos. E não traduz o prazer profundo que é trabalhar com uma equipe motivada, competente, bem humorada; mesmo que o objectivo principal não tenha sido atingido, porque demasiado ambicioso.

Vamos amanhã para a água. Hoje a preparação foi mais longa do que eu esperava, pelas razões habituais, e uma inesperada: o preço da energia duplica, ou triplica, entre as cinco da tarde e as oito da noite. De qualquer forma às cinco e meia, quando parámos, toda a gente estava derreada. Seria impensável pôr o bote na água naquelas condições.

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Ainda é cedo, o café cultural da cidade está quase vazio, mas a rapariga canta com entusiasmo. Canta assim assim (isto de ter padrões elevados in house é terrível), mas enfim, lá vai cantado. Apreciável é o facto de cantar para uma plateia vazia. Não está ninguém cá dentro, excepto eu, porque fiquei sem bateria. Repete músicas com um minuto de intervalo (é como se cantasse sempre a mesma, quase) mas é gira e deve ser simpática.

Lá fora a esplanada está a menos de um décimo. Verdade seja dita que é grande: uma grande parte de um parque de estacionamento, mais uma grande parte de um passeio e faixa da rua (onde, reconhecidamente, passam poucos automóveis). As cadeiras e mesas são horrorosas, de marcas de vermelha. Não vale a pena falar delas.

Em face J. reclama contra o volume da música, contra o espaço público que eles ocupam, contra - sobretudo - o facto de estes terem muitos mais clientes do que ele. O que é profundamente injusto, note-se. Tudo é melhor do outro lado, excepto o facto singelo de aqui vir muita gente e de aquele lado estar sempre vazio, ou quase.

Nunca fui tão estrangeiro numa cidade como em Parnaíba, escrevi no outro dia. É verdade: amanhã vou-me embora e sinto-me como se não estivesse estado aqui mais do que umas horas.

"Só quero saber o que pode dar certo / não tenho tempo a perder", canta a jovem senhora, como se fosse um pedido simples. Credo, rapariga, quando souberes o que pode dar certo não terás, de certeza, tempo a perder. Até lá terás, e muito.

A rapariga canta assim assim mas não tem mamas e parece uma versão engraçada de Olívia Palito. Admiro uma cantora que não acredita no físico para se impôr.

A burguesia (isto é, as pessoas da minha idade) começam a chegar. Ainda não pára: quem quer ser visto num lugar vazio, por muito cultural que seja?

Um dia voltarei a Évora contigo e iremos comer ao Cantinho. Ou então não perdemos tempo com lugares que já conhecemos e vamos à descoberta por esse mundo fora. À procura de tudo menos de Cantinhos. Que se lixe o que já foi. Viva o que será. A relação entre a memória e a felicidade é ténue, frágil e breve. O único parceiro sério para a felicidade é o presente ou, na ausência deste, o futuro.

Senhora séria, a felicidade: um marido e um amante fixos, há muito tempo.

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