20.5.12

Marigot, St. Martin, Antilhas Francesas, 19-05-2012

Todas as marinas têm um restaurante cujo mercado são as pessoas que nela trabalham, os marinheiros entre dois embarques, todos aqueles que não estão de férias. Na marina Royale, em Marigot, esse restaurante chama-se Le Sous-Marin e hoje fui lá jantar. Inequívoco sinal de que aterrei em St. Martin, e estou em casa. E em França, a França de que gosto, a França do bom gosto barato, da simpatia real, humana - por oposição à simpatia profissional, pré-fabricada, quero dizer -.

O senhor do Sous-Marin - um lugar um bocadinho tristounet, verdade seja dita, mas onde se come muito bem e barato - é casado com uma portuguesa de S. Pedro de Alva. Não sei onde fica S. Pedro de Alva, mas algo me diz que na segunda-feira vou saber: ele mostrou-me uma brandade de morue e eu respondi-lhe com um bacalhau assado no forno. Não que seja dado a saudades, mas a ideia de ter uma senhora a fazer-me um bom bacalhau no forno enche-me as medidas todas, tão por baixo que elas estão, coitadas.

A felicidade é uma sucessão de momentos que se devem agarrar, um a um; e acumular antes que fundam como chocolate ao sol, o que inevitavelmente acontecerá.

Procuro um trabalho para o verão. As possibilidades são muitas: desde o Pacífico às Maldivas, passando (claro) pelo Mediterrâneo, pela Alemanha (é o destino de um barco que vai sair em breve dos Estados Unidos com o qual estou em negociações) ou, mais modestamente, Trinidad, aqui ao lado. Não sei qual delas prefiro. Nenhuma, na verdade: todas me atraem igualmente. Preciso de navegar, só. Onde e porquê interessa-me pouco. [Vou ter de dizer não ao da Alemanha, apesar da viagem ser magnífica: "...up the eastcoast to New Foundland, Greenland, Iceland, Faroes, Shetland, Norway into the Baltic to Germany". Paciência. Não estou - nunca estarei - em maré de partilha de custos, excepto com amigos, e próximos].

Ou seja: o mundo desfila-nos à porta como um metro com um condutor bêbedo.  Às vezes o senhor lá consegue acertar com uma paragem e abrir as portas; às vezes essas portas abrem-se à nossa frente; às vezes nós damos o passo em frente antes de o condutor bêbedo do metro as fechar de novo. E lá vamos, numa viagem de que não conhecemos o fim; mas sabemos que tudo é melhor do que estar na paragem do metro à espera que passe o próximo.

Acredito muito no destino que fazemos, e pouco no que sofremos. 

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