11.10.12

A esquerda e os factos

A esquerda tem um problema intelectual fácil de perceber mas difícil de tratar (se fosse fácil não haveria esquerda, qed): a relação com os factos.

Para uma pessoa de direita uma asserção é discutida, comentada, aprovada ou não pelo que diz:  Salazar era um governante honesto. Uma pessoa de direita ouve isto e pensa: é verdade? É falso? Sim ou não?

Perante tal afirmação uma pessoa de esquerda começa por pensar que se está a defender o salazarismo.  Depois a máquina embala-se e em menos de nada somos fassistas. Não somos, claro. Um governante pode ser honesto (como Salazar), ser uma desgraça para o país (idem) e não ser fassista (ibidem).

Outro dos problemas da esquerda com a realidade é que a toma em bloco: o mundo esquerdista é digital. Zero ou um. Nada entra zero e um. Salazar foi uma desgraça para o país? Sim. Mas. Três mas:

- Foi uma consequência mais ou menos inevitável do que vinha de trás (poucas nações se suicidam e quando estão em situações difíceis tendem a encontrar soluções drásticas. Salazar em Portugal, Franco em Espanha, um genocídio no Rwanda são coisas que me vêm ao espírito assim de repente, salvas claro as devidas proporções);

- A maioria da população portuguesa apoiava-o. É uma sorte ele não ter organizado eleições, porque tê-las-ia ganho todas;

- Durante muitos anos as alterativas a Salazar não eram muito melhores do que ele.

Dizer isto não faz de quem o diz um salazarista. Excepto, claro, se estiver a falar com uma pessoa de esquerda. Infelizmente não sou cientista político nem psicólogo e não consigo explicar porquê.

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