De maneira agora faço reparações e manutenção num ketch de 50 pés que tem um nome bizarro e pertence a B., jovem e sorridente jogador profissional de poker. B. tem uma daquelas faces que torna quase impossível adivinhar-se-lhe a idade. Suponho que ande à volta dos trinta anos, e queixa-se de que desde que comprou oT. não consegue trabalhar, porque "o barco é um trabalho em si mesmo". Viaja com o irmão, C., mais novo e igualmente sorridente. Estão muito contentes com o meu trabalho, pelo que a cada dia tenho mais. E já me falaram em fazer uma etapa com eles - depois de atravessarem o Canal vão para o Equador e daí sobem até ao México.
O casco é em sandwich de balsa e tem pelo menos uma entrada de água. Disse-lhes que deviam vigiar atentamente aquela área e estou bastante tentado a discutir a proposta de navegação. Nunca estive no Equador, mas sei que é bonito. E gosto de navegar no Pacífico. E já sei que não vou para o Brasil. E o rapaz está longe de ser um idiota.
A ver vamos.
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Vim a Colon fazer compras. Entro num verdadeiro supermercado (um bocadinho diferente dos padrões europeus, mas grande e com bastantes referências) e lembro-me do fascínio da minha Mãe pelos supermercados quando ia à Suíça visitar-me.
Naquela altura ria-me; agora compreendo-a: uma hora num supermercado vale muitos tratados de sociologia ou relatórios da CIA sobre um país.
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Se alguém um dia me tivesse dito que poderia ser feliz em Shelter Bay eu ter-lhe-ia respondido que só louco. É mentira: a felicidade é onde um homem quer. Ou pode.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.