27.6.14

Diário de Bordos - S. Luis, Maranhão, Brasil, 26-06-2014

Mais do que um viajante sou um desenraizado.

Sinto-me bem com isso, confortável. É o que sou e é tudo o que sou. É bom. Significa que me dou bem comigo próprio. Fico aliviado porque sou um gajo difícil e chato,  e saber que há alguém com quem me dou bem - apesar de me conhecer - é reconfortante.

As pessoas que não me conhecem gostam de mim (há excepções,  claro, graças a deus) . Hoje foi a vez da cozinheira da pousada: ouviu falar em ovos estrelados e pensou logo que era eu.

Não estou a brincar. Ou sou o único cliente em dois anos que pede ovos estrelados ou peço-os - pedia-os, até agora tenho-me aguentado com os ovos mexidos que são a norma da casa - de uma forma especial.

A verdade é que a senhora saiu da cozinha mal a empregada com quem falei lá entrou e veio saudar-me, sorriso de uma parede da sala à outra, mão estendida.

Que era bom saber-me de volta, e que infelizmente o senhor Alessandro cortou o bacon mas que quando eu quiser ovos estrelados (ela diz fritos) é só pedir.

Amanhã vou comer ovos estrelados ao pequeno-almoço. Infelizmente sem bacon, mas enfim.  Já vi pior.

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Trabalhar em S. Luis é como andar numa escada rolante no mau sentido. Ou melhor: é como tentar subir uma escada rolante descendente. Só que não serve de nada tentar andar mais depressa do que os degraus. A escada adapta a velocidade à nossa, e quando nós aceleramos ela acelera também. E ou não saímos do mesmo sítio ou saímos a uma velocidade estonteante de tão lenta. Nauseante.  Enfim, amanhã talvez consiga dar um passo em frente. Talvez. Se há uma coisa que aprendi aqui é a não esperar nada que não dependa directa e unicamente de mim.

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