13.3.15

Diário de Bordos - Ft. Lauderdale, Florida, Estados Unidos, 13-03-2015

É difícil gostar-se de um país quando não se tem dinheiro, cartão de crédito, carta de condução e, para compor o ramalhete, o telefone está avariado. Tentar andar nesta terra gastando o menos possível nestas circunstâncias é difícil.

O que não significa que seja impossível, pelo menos no que respeita aos transportes. Já alojamento é outra história; seria necessário adicionar mais uma flor: estamos em período de férias estudantis e tudo o que é alojamento barato está cheio.

Tive sorte com o hostel em Fort Lauderdale - é pequeno, calmo e a única coisa que me impediu de dormir foi a porcaria do ar condicionado (o vizinho de baixo, um polícia reformado do estado de Nova Iorque que vem para aqui por causa do frio e por "conhecer bem os transportes" também não ajudou muito, mas enfim).

A verdade é que hoje me vinguei com uma soberba sesta, escrevi o que tinha de escrever (não está pronto, mas está quase) e descobri que se não tivesse de voltar a St. Martin era muito capaz de me meter num avião para Lisboa e deixar Cuba para outra ocasião.

¡Qué vaya! De hoje a pouco mais de uma semana terei novidades sobre o trabalho em Belize, de maneira mais vale habituar-me às condições difíceis, chegar a Cuba e relaxar.

E visitar, claro, os portos onde o meu Pai carregava açúcar para Londres, cidade onde acabou por conhecer a minha Mãe e enterrar os sonhos tropicais. "Podias ter nascido cubano", dizia-me muitas vezes. "Se a tua Mãe não fosse tão bonita" (esta é uma das continuações possíveis. Variavam. É a minha favorita e é a que fica).

A mistura genética teria sido diferente, mas há uma metade de mim que vai gostar de conhecer um país onde poderia ter nascido. A outra metade vai porque não tem alternativa.

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Fui ao 7-11 comer qualquer coisa (estou definitivamente em modo viagem) com Nelson, um porto-riquenho que está aqui para tirar a carta de pesados. Não fala uma palavra de inglês. Também foi polícia, mas só por causa do pai, que deve ter morrido. É novo, e fala-me da corrupção em Porto Rico. Mais um mito que cai: pensava que o país estava isento dessas latinices.

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Amanhã é dia de viagem. O objectivo é Marathon, que fica já nas Keys e é mais barato - ao que diz Dennys - do que Key West.

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"Coisa é essa de que ninguém se deve espantar, porque nunca ali vimos senão ficarem na maior parte sepultados no mar os que muito labutam no mar, e por isso, amigos meus, o melhor e mais certo é fazer conta da terra e trabalhar na terra, já que Deus foi servido de nos fazer de terra".
(Fernão Mendes Pinto, Peregrinação).

Discordo, mas que é bonito é.

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