21.5.15

Divórcio - I

Tudo começou com dois mojitos sem açúcar, claro e uma hipótese: as senhoras da burguesia são as mais bonitas. Isto é, a burguesia é a classe que mais mulheres bonitas dá ao mundo, o que explica a extinção ou quase extinção das outras duas (para quem não tinha dezoito anos em 1974 a aristocracia e os proletas). A fim de defender a minha hipótese pensei numa marquesa espanhola feia como um macaco (ou macaca) e numa gaja chamada Claudia Cardinale que se casou com um tipo chamado Tancredo numa espécie de coboiada italiana que vi há alguns anos no cinema.

Alguns cinéfilos e literatos apontar-me-ão sem dúvida as mulheres daqueles filmes neo-realistas italianos que também eram muito boas mas toda a gente sabe que elas eram burguesas, só fingiam ser do povo. Até suecas havia, país especialmente desprovido de proletariado e de aristocracia. Pelo menos em parte.

Bom, voltemos ao tema. A ideia é defender a burguesia, classe na minha opinião injustamente vilipendiada. Ele é as mulheres, os restaurantes - um tipo vai a um restaurante operário e é uma merda, tanto quanto os dos outros são caros. Nestes não se pode estar à vontade, naqueles não há quem não o esteja - o que ao fim do dia se torna desagradável, o à vontade dos outros invade bastante -.

É na burguesia que está o futuro - ninguém tem tantos filhos como as burguesas - e o presente - alguém imagina ir para a cama com uma gaja e dizer "querida, passe-me o seu mamilo esquerdo, por favor. O direito já maça"?

Tudo começou assim e depois tudo descarrilou.

A minha Teresa, coitada, fechada no quarto ou num amor qualquer novo - é quase a mesma coisa - disse-me que queria o divórcio. Eu sou um homem respeitável, dono do maior talho da vila (na verdade é uma aldeia, mas as pessoas gostam de pensar que devia ser vila).

Ora vinha eu a pensar neste assunto e vejo um bilhete dela. Isto incomoda-me. Até agora só comunicávamos por energias mentais, telepatia, coisas assim. Ver um bilhete, manifestação física da sua existência desestabiliza-me. Pois bem: estava um bilhete à porta do meu quarto (proíbi-a de sair de casa, mas não de por ela cirandar). "Quero o divórcio", dizia.

Ou "Quero divorciar-me". É possível. Não li bem.

(Cont.)

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