4.9.15

Diario de Bordos - La Coruna, Galiza, Espanha, 04-09-2015

A Renfe está de greve. Vou de comboio até Valença e daí em diante é camionetes: primeiro até Ferrol del Caudillo depois para a Coruña. Era isto ou esperar duas horas em Vigo; prefiro espreitar Ferrol, onde nunca estive. Em Vigo já, muitas vezes e não é cidade da qual goste particularmente, apesar de a Ria ser bastante bonita.

Ando a turistar imenso, ultimamente. Quem diria que viria a gostar de ir para um lugar qualquer só porque sim? Um lugar onde não tenho nada de especial a fazer... Enfim, não é bem assim: no Porto tinha e fiz. E em Ferrol não vou ficar tempo nenhum, excepto se não houver transportes, do que duvido muito.

A verdade é que gosto do meu trabalho. Permite-me conciliar algumas das coisas de que mais gosto e ser pago para isso. Não é nenhuma fortuna, claro. Se quisesse ficar rico seria infeliz. Estes últimos meses  (ou anos) têm sido de desordem financeira. Sou péssimo a gerir o meu dinheiro e ainda pior a falta dele. É muito cansativo viver comigo mesmo, pelo menos do ponto de vista monetário. Dos outros é melhor: viajo, cozinho, bebo e escrevo sem me chatear muito. Vez por outra lá me sai uma miúda gira na rifa... Se isto continua assim não tarda apaixono-me. Já estive mais longe. É  uma perspectiva que me assusta um bocadinho, confesso; mas enfim, nunca fui homem de fugir e não é agora que vou começar. As feridas da última já fecharam e sei o que fazer para não voltar a acontecer.

O veículo no qual saímos de Vigo devia ter uma avaria e trocámos ao fim de meia hora. A mudança foi rápida e linear mas o condutor reclama e explica que não sabe se vai poder regressar hoje ainda, por causa do descanso obrigatório. Gostei da troca : tenho um lugar melhor, à frente e à janela. Na outra estava atrás e no corredor. Cada vez que olhava pela janela a vizinha pensava que lhe estava a olhar para os seios pequenos e bonitos, arrebitados. Era jovem, 22 ou 23 anos e vestia-se à anos 50. Parece-me; na verdade pouco ou nada percebo de moda. Se calhar estou a ser influenciado pelo seu ar sóbrio, austero, de rapariga pouco dada a aventuras, cabelo enrolado num carrapito como já só se vêem no cinema.

Adormeci; acordei em Santiago de Compostela. Não passámos pela catedral e parece uma cidade como outra qualquer.

A escala em Ferrol  (como isto agora se chama. Deixaram cair o Caudillo) foi curta. Deu para comer a correr um prato de carne de porco "adobada" - o adubo era massa de pimentão - e beber um copo de Rioja. Tudo isto bastante bom, por sinal, apesar da pressa. A cidade é maior e mais bonita do que esperava. Quando cheguei a Portugal, em 74, navegava muito com um senhor que preferia Ferrol (então del Caudillo) à Coruña, mas eu nunca cá vim. E a  verdade é que gosto muito da Coruña "a cidade na qual ninguém é forasteiro".

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