19.1.16

Arrogância, carências

Uma vez disseram-me "estás carente" como se me dissessem "tens gonorreia", "roubaste a gamela do pobre" ou "achas bem andar atrás da mulher do vizinho, que é gorda, careca, desdentada, mal-educada, não tem gosto nenhum e ainda por cima não se lava?"

Em Portugal estar sozinho contra vontade e tentar deixar de o estar é motivo de vergonha. Como de resto qualquer tentativa de mudar uma condição da qual não se gosta: a ambição é mal-vista, por exemplo. Querer um emprego melhor ou não se conformar com o que a sorte nos trouxe é ser fraco. Pobre. Carente.

Somos um país de super-homens estóicos, abúlicos e calados. Inconformado, apaixonado, impaciente, independente, desrespeituoso e livre pergunto-me se um estóico e abúlico involuntário não será simplesmente um palerma, mais um.

Acho que não. Seria arrogância, que tão pouco deve ser vista muito pela rua.

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