O termo português é hipócrita. Prefiro o francês faux-cul. Não é só por gostar de cul, é porque me parece mais honesto, verdadeiro, descritivo. Prefiro que me chamem filho da puta pela frente a chato pelas costas.
Hoje estava a preparar a largada e a tripulação decidiu que não seguia. Desembarcava. Não se sentiam em confiança comigo. Por mim tudo bem, mas há dois dias fomos jantar todos juntos para termos uma conversa e só me falaram da tempestade. Não disseram nada sobre o monte de coisas que puseram no mail para a agência. Coisas patetas a maioria, patéticas algumas e (reconhecidamente poucas) falsas o resto.
Passei um dia horrível. Havia três hipóteses: ou a agência nos desembarcava a todos, ou a mim ou a eles. Tive sorte. Fui eu que fiquei (não foi só sorte. C. interrogou pelo menos alguns dos tripulantes com quem naveguei noutros transportes para ele).
Mas ainda estou furioso. Sei lidar com tempestades, com avarias, com a maioria das coisas que podem acontecer numa embarcação de vela (ou a motor, já agora). Mas não sei lidar com a cobardia, com a falta de hombridade, com a mentira.
Não-pessoas. Não-entidades. Não-seres. Desembarquei-os sem um adeus sequer. Fora. Prefiro a merda ao cheiro a merda.
O pior é que tenho de ficar aqui à espera de tripulação nova. E "aqui" nem sequer é Gibraltar, o que já seria mau. Amanhã vou fundear para La Linea, para poupar massa ao armador.
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Gibraltar é uma cidade inglesa, mas os gibraltinos são árabes que falam inglês.
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Tudo indica que as minhas palavras encontraram, finalmente, um porto. Onde elas estão estou eu. Onde elas ficarem eu fico, para sempre.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.