18.5.16

Diário de Bordos - San José del Cabo, Baja California Sur, México, 18-05-2016 / II

A casa que M. encontrou é óptima: pequena, asseadíssima, bonita, perto do autocarro. O wifi funciona maravilhosamente. A cama é enorme, parece um campo de futebol e faz sonhar com outros desportos. Mal cheguei esvaziei - literal, não metaforicamente - os sacos, para os rearrumar e contabilizar os esquecimentos. Nenhum. Nem um. Zero. Ficou nada para trás. O S. B. vai sair da minha vida muito mais depressa do que entrou.

Trouxe os sabonetes Grão da Terra - por falar nisso descobri-lhes finalmente um defeito: nas baixas latitudes não secam. É um bom ómen: a minha terra fica nas latitudes intermédias,  no extremo ocidental de um continente que é dos que conheço o melhor. Nela os bons sabonetes secam e duram mais tempo -. Vieram as luvas e os gorros, as cartas com as quais um dia decorarei  um bar cujo nome poderia ser, sei lá, Nómadas Anónimos, Café Pousio, Bar do Mar, Café Slocum, Café Bequia, Ultramarina e por aí adiante, sem parar. Veio tudo, inclusivamente duas ou três peças de roupa que iam ser promovidas a trapos e afinal acabam no lixo.

A única sombra no quadro é ter recomeçado a fumar. Fumo de pouca dura. Passo bem sem cigarros mas não lhes resisto se estiverem perto.

E sobretudo tomei um duche. Um longo, interminável duche que me fez pensar na cena final do Coming Home, o Jon Voight (pai daquela horrível mulher) a tomar banho na cadeira de rodas no Pacífico. Salvas as devidas proporções,  claro. Apesar de tudo não estou a regressar do Vietname. Estou inteiro, a Jane Fonda não se apaixonou por mim e - sim - a vida continua.

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O México é um país adorável. Um dia hei-de percorrê-lo de norte a sul, de fio a pavio, de cima a baixo do vulcão.

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Está calor. Doce calor. A senhora que toma conta da casa, à boa maneira do país vizinho, ligou o ar condicionado e depois vinha carregada de mantas "para se tiver frio". Disse-lhe que não precisava, obrigado.

Quando estiver todo transpirado tomo outro duche. Aqui não preciso de me preocupar com os tanques de água nem com as baterias. Levanto-me, é tudo. Enfim, não é: será que o sabonete está seco?

Problema maiúsculo.

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Por hoje é tudo. Não preciso sequer de ler o Shandy para adormecer. Vou lê-lo por prazer.

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