30.3.17

Diário de Bordos - Miranda do Corvo, Portugal, 30-03-2017. A vida no campo - III

Às cinco da tarde vou tomar chá, como se fosse inglês ou aspirante a. Nem uma coisa nem outra. O chá é medíocre, a começar pela qualidade - nunca apreciarei chá em pacotes, creio - e a acabar na maneira como é servido, quase morno, uma chávena com o pacote lá dentro e um pequeno recipiente ao lado com água que suponho era para estar quente e não está. Ponho o pacote dentro do recipiente de água - não sei como se chama, é daqueles que se usa também para leite, natas ou café - e bebo duas chávenas. Por um euro, valha isso.

No café-pastelaria Jardim, até agora o meu sítio favorito em Miranda do Corvo. Já lá almocei duas vezes e hoje, depois de uma experiência ao almoço desastrosa num café que aparentemente pertence a uns ingleses - não sei, não tenho a certeza - resolvi que voltaria mais vezes, muitas mais.

A vila não me é particularmente simpática. Traz-me demasiadamente à memória os tempos em que a ideia de passar mais do que três dias longe de uma cidade com menos de meio milhão de habitantes (ou Genève, que tem metade mas não parece) me provocava uma crise de urticária. Ou então aquela anedota do concurso: primeiro prémio uma semana em ------ com todas as despesas pagas; segundo prémio, duas semanas no mesmo sítio e nas mesmas condições. (Antigamente o alvo da piada era o Porto, mas agora não faz sentido. A cidade está bestial. Miranda ainda faz).

As pessoas, pelo menos aquelas com quem tenho de lidar mais vezes - a biblioteca e no início o centro de saúde - são antipáticas, secas, quase agressivas.

Não sei se tem a ver com a região e confesso que me interessa pouco. Amanhã chega o computador - se o amanhã de hoje for diferente do amanhã de ontem - e deixarei de ir à biblioteca. Já desisti de tratar da dor no cotovelo. Fica para Lisboa, juntamente com as consultas. Tratar das coisas por telefone ou mail com o SNS não vale simplesmente a pena. Parece uma gruta com um serviço de hotel de luxo quando se está lá dentro. Mas até entrar é um sarilho.

Verdade seja dita que se fosse ao invés seria pior.

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Ou seja: para a semana tenho de ir a Lisboa. Não telefone, vá. É muito mais prático, mais barato e mais rápido.

Amar Portugal é tão desesperante como amar uma mulher feia.

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"À medida que envelhecemos começamos a gostar da Suíça". A frase é da Triomphante, o livro que começa com aquela frase sublime: "Tenho a imaginação portuária".

Não sei o que é a minha imaginação ou sequer se tenho alguma; mas a propósito da Suíça parece-me cada vez mais verdade.

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