9.4.17

Dois pares de mãos, abertas

Pergunta: uma história de amor hoje começa num aeroporto, numa estação de comboios, numa marina, num porto de contentores, granéis sólidos ou líquidos, no terminal de passageiros de um porto frequentado por navios de cruzeiro (antigamente conhecidos por paquetes), numa estação de táxis, na proverbial tabacaria da esquina ou numa outra, menos proverbial, à porta da qual uma pequena suja come chocolates?

Uma viagem poderia começar das mais variadas formas se as viagens tivessem princípio ou fim. Não têm. Com excepção de uma, que não tem princípio mas tem fim. Passa-se o mesmo com uma história de amor; com o amor que essa história conta: tem fim mas não tem princípio. "Fui feito para ti", dizem as duas personagens da história. Mas foram feitas quando?

Como o universo: sabemos que vai acabar, colapsar, as estrelas e planetas e as galáxias e os cometas e os asteróides e o lixo espacial e as partículas mais tudo o que por ali anda e andará e andou um dia colapsará num gigantesco buraco negro e todos saberemos que acabou - "todos" tendo acabado já há muito tempo, claro.

Mas ninguém saberá de onde veio aquilo tudo, onde começou, de onde veio. "Fui feito para ti, mas quem me fez não te conhecia, não me conhecia sequer, foram milhares as mãos que me fizeram chegar a ti e tu a mim".

Foram milhares as mãos que nos fizeram. Uma história de amor começa com um par dessas mãos noutro par, abertas para se receberem, onde quer que estejam.

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