18.5.17

Diário de Bordos - La Linea, Andaluzia, Espanha, 18-05-2017

Das poucas coisas que aprendi fazendo o que faço ou mais provavelmente vivendo o que vivi há duas e só duas que me parecem importantes: a) um pássaro na mão vale mais do que dois a voar (por azar, não só vale como também é mais caro, claro); e b) tudo o que puder correr mal vai correr pior do que o pior que se espere.

Ou seja, de novo à espera de uma peça e à mercê da evolução do tempo. Devo dizer que percebo o armador: em Gibraltar a peça custa quatrocentos e alguns euros; ele tem-na em stock em Atenas. Faz todo o sentido fazer-me esperar em La Linea que a DHL me entregue aquela merda, tanto mais que a DHL garantiu que a dita merda (um motor de arranque) me seria entregue hoje ao fim da manhã.

Não foi. Só amanhã. A explicação é poderosa: o endereço - copiado da página na web da marina - estava incompleto. Há potencialmente duzentas e cinquenta marinas em La Linea, mas só uma está feita. A meio da tarde telefonei a confirmar que o endereço da marina era aquele. Uma marina é coisa que escapa facilmente ao olhar de um chauffeur de entregas, claro. Sobretudo se o endereço não tiver número da porta. Acontece que o tempo que para hoje era magnífico para amanhã e dias seguintes é uma merda (outra, diferente da primeira).

Recordo com um bocadinho de prazer a semana que já passei em La Linea à espera de tripulação primeiro e do tempo depois. Gostaria simplesmente de não a repetir, se fosse possível. Com a quantidade de portos que há por esse Mediterrâneo fora prefiro esperar ou num que não conheço ou noutro mais prazenteiro.

Sem esquecer que quero mesmo chegar a Atenas o mais depressa possível e preferiria, se me fosse dado preferir, não esperar em lado nenhum.

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Estou furioso, no café da marina onde a televisão passa um jogo de futebol e um imbecil grita e comenta com uma voz rouca, desagradável, patológica, gritante, agressiva e penso que sou um imbecil ainda maior do que o que comenta e se excita com o jogo. Chatear-me com os erros dos outros é uma perda de tempo; com os do destino é uma idiotice perfeita. Mais vale ir para o Bodegón Antoñito, na esperança de que não haja imbecis aos gritos (esperança patética, claro; ou pateta) e conversar com o destino com a ajuda de um copo de vinho agora e uma tapa ou duas depois.

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As tapas ficam para depois: fomos almoçar à Bodeguiya. Acho que isto diz tudo. Se não diz devia dizer e só demonstra o fraco cronista que sou.

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