11.11.17

O princípio do fim (de semana)

O sábado começa muito devagar, como um carrinho de rolamentos numa rampa pouco inclinada. Revivo o jantar de ontem, as pessoas de quem tanto gosto, a carne que não me convence; daqui a pouco tenho uma reunião de trabalho: o meu carrinho de rolamentos vai acelerar. Devagarinho: façamos devagar o que é bom e depressa o que nos desagrada. É isso: atardemo-nos na fotografia que há pouco vi, linda, de uma senhora a entrar numa parede. Não a revejo: memorizei-a e dou-lhe voltas como a um gelado do Santini num final de dia em Cascais.

O trabalho é por causa do Jantar de Natal, uma ideia da M., essa fábrica de ideias boas, quentes, doces. Daqui a pouco levantar-me-ei e o dia começará realmente: nesta cama o tempo não se deita. Eu sim, mas não com ele.

A menos, claro, que chamemos tempo ao que ficou para trás e ao que aí vem. Talvez. Não me interessa: agora só penso na velocidade com que um se transforma no outro.

Lentamente, como se numa rampa muito pouco inclinada um corpo se pusesse em movimento, iluminado pela luz densa e marítima de uma vida.

Pequeno-almoço, duche, barba, levantar-me: o tempo chega-me de marcha atrás. Janus, mon cher frère siamois, aujourd'hui on s'en foût, on fait la fête, toi et moi.

Comme tous les jours.

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