De todo o vasto leque de profissões, tenho um respeito muito particular por meia dúzia delas: médicos, coreógrafos, músicos, por exemplo. Pelos marinheiros não é propriamente respeito: é mais uma sensação de pertença, de tribo, grupo. "I know them, / I am one of them", diz um poema de que gosto imensamente.
Mas há uma profissão e uma só pela qual sinto uma veneração sem fim, uma mescla de admiração, inveja, incompreensão, respeito, amor, tudo isto num caldo de gratidão: são os maquinistas navais, agora conhecidos por engenheiros navais, ou engenheiros de máquinas. Não sei como se chamam; sei o que fazem: milagres todos os dias. Um engenheiro maquinista naval é o summum da evolução, uma espécie de Einstein cum Tesla colectivos, disseminados por esses oceanos fora.
A minha relação com os maquinistas, como sempre os conheci, data de muito longe: os do rebocador de alto mar CINTRA que uma vez rebobinaram uma bobine qualquer a bordo, não me lembro de qual, mas sei que era grande e sem ela o navio não navegava - esta história chegou-me pelo meu Pai, ao tempo capitão do navio - de tal forma quando chegaram a Inglaterra (o CINTRA estava de atenção em Penzance Bay, na Cornualha) os ingleses recusaram-se terminantemente a acreditar que aquilo tinha sido feito à mão, no mar e foi preciso o meu Pai impõr-se; ou no RIO CUANZA, quando descobrimos que o navio estava a perder água e se chegou à conclusão de que só podia ser pelas caldeiras. Ficámos a pairar e os maquinistas revezavam-se dentro das caldeiras para colmatar as centenas de furos pelos quais perdíamos o precioso líquido na sua versão doce - o bote não tinha tanques de água porque tinha dessalinizador, o qual estava avariado para lá de qualquer esperança e atravessávamos o Pacífico pelos vinte e cinco graus de latitude.
É portanto fácil de imaginar que quando encontro um maquinista excepcional (relativamente aos outros maquinistas) o meu sentimento deixa de o ser e passa a êxtase quase religioso, um estado de espírito que me liga directamente a Hildegarde Von Bingen, Teresa d'Ávila e outros místicos.
O meu pódio tem dois desses engenheiros. Um chama-se Christian, vive na Flórida e tem sobre todos os outros a vantagem de ser igualmente um homem maravilhoso, bom, daqueles pelos quais qualquer homem sensato se apaixonaria se fosse uma mulher sensata.
O outro chama-se Salvador. Não é exactamente, exactamente um maquinista: a especialidade dele é a electrónica, mas também se "desenrasca" (entre aspas porque podia dar aulas aos professores de todos os Politécnicos do mundo) em electricidade. Partilha com o Christian a qualidade de ser uma pessoa extraordinária.
Amanhã o Salvador vai trabalhar a bordo do PANDA.
(Quando as lágrimas pararem continuo).
Mas há uma profissão e uma só pela qual sinto uma veneração sem fim, uma mescla de admiração, inveja, incompreensão, respeito, amor, tudo isto num caldo de gratidão: são os maquinistas navais, agora conhecidos por engenheiros navais, ou engenheiros de máquinas. Não sei como se chamam; sei o que fazem: milagres todos os dias. Um engenheiro maquinista naval é o summum da evolução, uma espécie de Einstein cum Tesla colectivos, disseminados por esses oceanos fora.
A minha relação com os maquinistas, como sempre os conheci, data de muito longe: os do rebocador de alto mar CINTRA que uma vez rebobinaram uma bobine qualquer a bordo, não me lembro de qual, mas sei que era grande e sem ela o navio não navegava - esta história chegou-me pelo meu Pai, ao tempo capitão do navio - de tal forma quando chegaram a Inglaterra (o CINTRA estava de atenção em Penzance Bay, na Cornualha) os ingleses recusaram-se terminantemente a acreditar que aquilo tinha sido feito à mão, no mar e foi preciso o meu Pai impõr-se; ou no RIO CUANZA, quando descobrimos que o navio estava a perder água e se chegou à conclusão de que só podia ser pelas caldeiras. Ficámos a pairar e os maquinistas revezavam-se dentro das caldeiras para colmatar as centenas de furos pelos quais perdíamos o precioso líquido na sua versão doce - o bote não tinha tanques de água porque tinha dessalinizador, o qual estava avariado para lá de qualquer esperança e atravessávamos o Pacífico pelos vinte e cinco graus de latitude.
É portanto fácil de imaginar que quando encontro um maquinista excepcional (relativamente aos outros maquinistas) o meu sentimento deixa de o ser e passa a êxtase quase religioso, um estado de espírito que me liga directamente a Hildegarde Von Bingen, Teresa d'Ávila e outros místicos.
O meu pódio tem dois desses engenheiros. Um chama-se Christian, vive na Flórida e tem sobre todos os outros a vantagem de ser igualmente um homem maravilhoso, bom, daqueles pelos quais qualquer homem sensato se apaixonaria se fosse uma mulher sensata.
O outro chama-se Salvador. Não é exactamente, exactamente um maquinista: a especialidade dele é a electrónica, mas também se "desenrasca" (entre aspas porque podia dar aulas aos professores de todos os Politécnicos do mundo) em electricidade. Partilha com o Christian a qualidade de ser uma pessoa extraordinária.
Amanhã o Salvador vai trabalhar a bordo do PANDA.
(Quando as lágrimas pararem continuo).
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.