25.10.18

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 25-10-2018

Alguns acontecimentos sucedem-se; outros mantêm-se. A constipação continua, por exemplo. É daquelas que vai durar o inverno todo, está visto; ou pelo menos até ir para o mar. Aí não há uma que resista, desvanecem-se todas.

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Comprei calças. Tem sido uma orgia de compras: t-shirts, sapatos, hoje três pares de calças. Têm cores diferentes, talvez isso lhes prolongue o tempo de vida útil. Este é o maior inconveniente desta forma de comprar roupa: acaba tudo ao mesmo tempo. Com cores diferentes é possível que a prática me leve a usar mais umas do que outras. Três pares duram pelo menos três anos, talvez quatro (depende das latitudes onde viva durante o período). Ultimamente fartei-me de promover roupa a trapos, daí este espalhanço de compras. Vá lá, foi rápido: não passei um quarto de hora na loja. Talvez um dia perceba a expressão "terapia de compras". Devia ser "tortura de compras".

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O mastro continua a ser pintado. É uma trabalheira porque decidi não tirar as ferragens: não quero provocar os demónios, eles dispensam-nas. O Ian está a dar boa conta do recado - gosta tanto de barcos como eu e do trabalho bem feito. A verdade é que o pau está a ficar lindo, muito mais do que esperava -.

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A minha bicicleta Órbita Estoril Dois é uma merda. "Elástica", chama-lhe o gajo da loja onde reparo os furos e afino os travões e as mudanças. Mas há uma coisa de que gosto: conduzo direito, com o torso quase na vertical. É uma posição que favorece a observação e a condução pausada. O único inconveniente é que me distraio um bocadinho mais, com tudo o que vejo.

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O A. acabou finalmente por concordar comigo: a solução para o chão da casa de banho é levantá-lo um pouco. "Dez milímetros" disse-me hoje. "Nem se nota". Claro que não se nota, A. É o mais fraco de todos e o que requer mais atenção. Para falar com ele adopto una forma de maiêutica doce: começo por lhe perguntar porque não fazes {assim} (a solução que me parece indicada)? Depois sugiro mais duas ou três fáceis de refutar, sempre sob a forma de pergunta. Um dia digo-lhe "é pena que {assim} não funcione". No dia seguinte ou dois dias depois vem dizer-me "encontrei a solução ideal. Fazemos {assim}. Respondo "sim, super. Boa ideia" e acabo por ter a coisa como quero e bem feita, porque ele trabalha bem. Como há muito trabalho não se perde tempo - enquanto não faz uma coisa faz outra - e tenho um bom ambiente a bordo.

O que demonstra que cresci bastante: há vinte anos ter-lhe-ia dito "faz {assim}" e ao fim de uma semana ele ir-se-ia embora "de moto proprio". Não há em Andratx gente que chegue para brincar aos pequenos ditadores. Além de que na verdade ele trabalha bem, se for ele a encontrar as soluções. E eu não tenho feitio para isso.

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Ontem seria o aniversário da minha Mãe. Beijo, Mãe. Escrevo isto e oiço-te pensar (e dizer, nunca sofreste de mudez) "és igual ao teu pai". Quem me dera, Mãe. Quem me dera. Não sou. Ainda hoje o provei, uma vez mais. Que se lixe. Não perco o sono se o M. F. não gostar do e-mail que lhe enviei. A verdade é que hesitei bastante, isso chega para provar que aprendi qualquer coisa; e que não é só ao Pai que sou igual. É também a ti.

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